ALTO COMANDO DAS FORÇAS ARMADAS DO BRASIL – ACFA: QUEM TE USA PARA SUA PRÓPRIA GEOPOLÍTICA? UMA POLÊMICA SOBRE O CARÁTER DO “08/01/2023”

LIVROS

Apresentamos aos nossos leitores da Editora Nova Antídoto e do Blog da LBI, um breve ensaio de artigos, organizado pelo editor Candido Alvarez, sobre a história e o caráter de classe das Forças Armadas brasileiros, mais especificamente sobre seu Alto Comando. Estabelecemos uma narrativa jornalística sempre com o contexto histórico, assim como nos ensinou Marx, que vai muito além das fanfarronices das personalidades burguesas, que tanto impressiona os pseudos os “especialistas de plantão”.

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1 – ALTO COMANDO MILITAR BRASILEIRO PERDEU SUA AUTONOMIA DE DECISÃO HÁ 60 ANOS ATRÁS, EM 1964

2 – HÁ UM ANO DO “08/01/2023”: SEM ANISTIA PARA TODOS OS REPRESENTANTES POLÍTICOS DA BURGUESIA

3 – UMA REAL TENTATIVA FRACASSADA DE GOLPE DE ESTADO: O GENERAL SYLVIO FROTA

4 – CRESCIMENTO DA PRESENÇA MILITAR DO IMPERIALISMO IANQUE NO GOVERNO DA FRENTE AMPLA

5 – PENTÁGONO MANDA EXONERAR COMANDANTE BRASILEIRO QUE NÃO SE ENQUADROU NA “PAUTA DEMOCRÁTICA” DA CASA BRANCA

6 – A PATÉTICA MARCHA BOLSONARISTA A BRASÍLIA PODE SER COMPARADA A UMA TENTATIVA DE “REVOLUÇÃO COLORIDA”?     

7 – NOSSA POSIÇÃO DIANTE DA “CORTINA DE FUMAÇA” EM CONDENAR A SUPOSTA “TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO”

8 – MANIFESTAÇÃO BOLSONARISTA É SEM DÚVIDA UM MARCO NA DESMORALIZAÇÃO DO REGIME BURGUÊS

9 – OCUPAÇÃO DO PARLAMENTO, STF E PLANALTO PELA DIREITA BOLSONARISTA

10 – A “NOVA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA”: UM MANUAL DE COMPLETA SUBSMISSÃO DAS FFAA DO BRASIL

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1 – ALTO COMANDO MILITAR BRASILEIRO PERDEU SUA AUTONOMIA DE DECISÃO HÁ 60 ANOS ATRÁS, EM 1964

Os ultrarreacionários generais e coronéis de alta patente e membros do Alto Comando das Forças Armadas Nacionais, se pudessem “decretar” um regime político para o Brasil, não optariam por implantar uma “simples” Ditadura Militar, decidiriam por impor um regime ainda mais cruento, uma Ditadura escravofascista militar! Entretanto essa escolha não está no âmbito das “preferências” ideológicas pessoais destes “gorilas” fardados.

Desde o golpe militar desferido em 1964, há exatos 60 anos atrás, os comandantes militares que detém postos de controle estratégico da tropa e de armamentos, são indicados diretamente pelo Pentágono, onde são treinados pela escola superior militar norte-americana e de lá recebem suas ordens.

A razão da completa perda de autonomia das nossas Forças Armadas é bem simples, foram os ianques que arquitetaram e bancaram o golpe militar contra o governo nacionalista burguês de João Goulart, e na sequência estabeleceram um regime militar que durou vinte anos no Brasil. Entretanto a subserviência dos comandantes militares brasileiros em relação as diretrizes traçadas pelos generais norte-americanos têm sua gênese um pouco antes, já no final da Segunda Guerra Mundial em 1945. Desta época surge a figura ainda nas batalhas da FEB em campo italiano, do general Castelo Branco, que é “ungido” para completar sua formação de comandante militar em Washington.

Não por coincidência é o próprio Castelo o construtor local do golpe militar contra Jango e também o escolhido pela Casa Branca para ser o primeiro presidente da ditadura militar no Brasil.

A liderança do Marechal Castelo Branco no interior das Forças Armadas representava, em uma etapa de plena “Guerra Fria”, a segurança para os EUA que o Brasil não se inclinaria para o chamado “campo socialista”, independentemente da orientação política do governo de turno no país. Logo nos anos 50 foi fundada a Escola Superior de Guerra no Brasil, onde uma ampla camada de oficiais superiores recebia formação ideológica diretamente dos quadros militares do Pentágono.

Com a deposição do governo nacionalista burguês de Vargas em agosto de 1954 pelo Alto Comando dos Militares, já nesta altura totalmente alinhados com as ordens da Casa Branca, o ato do seu suicídio conseguiu adiar o golpe militar “made in USA” por dez anos. Neste período a cúpula das Forças Armadas tinha um forte núcleo ideológico pró-ianque, amplamente majoritário na caserna sobre os “nacionalistas”, formado por comandantes da mais alta patente, como Castelo, Goubery Silva (criador do IPES), os irmãos Ernesto e Orlando Geisel, Augusto Rademarker entre outros. Coube ao IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) toda formulação política e “desenho” ideológico do golpe militar desferido em Primeiro de Abril de 1964, sob os auspícios diretos da poderosa Segunda Frota Naval norte-americana, ancorada em nossa costa na chamada “Operação Brother Sam”.

Voltando um pouquinho na história, no segundo governo Vargas em meados dos anos 50, chamado de “nacionalista”, e que derrubado por um complô militar determinou a olhos de qualquer observador honesto quem de fato controlaria nossas Forças Armadas já neste período.

No dia 24 de Agosto de 1954, Getúlio Vargas se suicidava no intento de deter a marcha militar para depor seu governo. A batizada “República do Galeão” (sede da base aérea da então capital da república), reunia os comandantes das três armas, que recebendo ordens via rádio comunicação, diretamente do Pentágono, era de fato o centro do poder estatal da colônia brasileira. O Palácio do Catete, assim como hoje o Palácio do Planalto, são apenas representações simbólicas institucionais e que para o Alto Comando das Forças Armadas não valem muita coisa…

Um ano e meio depois, já em 1955, os chefes militares, guiados por Washington, passam novamente a se pronunciar contra o resultado das eleições daquele ano, que elegeram o presidente Juscelino Kubitschek e João Goulart para vice. Passam a pregar um golpe contra o presidente eleito. Ocorre um fato, então, que vem a reforçar a ilusão da existência de uma “ala legalista” ou de uma “tradição constitucionalista” do Exército Brasileiro, no episódio envolvendo o então Marechal Lott.

Um movimento preventivo é posto em marcha pelo então Ministro da Guerra, Marechal Lott, retardando por alguns anos o golpe militar que derrubou o presidente Jango em 1964. Este movimento aparentemente “legalista” de Lott, assim como outros ocorridos na nossa história, apenas obedecia ao amadurecimento da situação política no país, já que a Casa Branca não considerava Juscelino Kubitscheck uma ameaça aos seus interesses econômicos, caracterização geopolítica que não foi feita em relação a Jango, e por isso desfecharam o golpe militar nove anos depois, sob a “supervisão” direta do Departamento de Estado dos EUA.

Foi no seio do “núcleo duro” do Alto Comando das Forças Armadas, por quase uma década, entre a deposição do “suicidado” Getúlio e o golpe militar de 1964, que o processo de homogeneidade ideológica dos oficiais brasileiros de alta patente deu seu “salto de qualidade”, em favor da doutrina militar do imperialismo norte-americano. Poderíamos conceituar estes chefes militares sob a disciplina de ferro do Pentágono, como a “fração Castelista”, em referência a liderança do Marechal Castelo Branco.

Porém é preciso contextualizar essa situação de subordinação das nossas Forças Armadas muito além somente de uma questão de identidade ideológica, ou até mesmo de uma inferioridade bélica abissal em relação ao “poder de fogo” dos ianques. Estamos falando de uma etapa histórica onde a revolução socialista “rondava pela esquina” dos regimes capitalistas latino-americanos. A pequena ilha de Cuba tornara-se o primeiro Estado Operário do continente em 1960, logo após a revolução popular armada. As guerrilhas da esquerda marxista, cruzando os países andinos e caribenhos, estava dando seus primeiros passos. A trajetória política da URSS e China significava um contra-ponto real ao chamado “mundo democrático”, onde os EUA era o tutor global absoluto da “liberdade de mercado”. Neste quadro germinal de correlação de forças no planeta, não é muito difícil entender porque as Forças Armadas brasileiras, defensoras até a medula da propriedade privada dos meios de produção, abdicaram de sua autonomia para tomar decisões estratégicas sobre os rumos políticos, sociais e econômicos do país.

2 – HÁ UM ANO DO “08/01/2023”: SEM ANISTIA PARA TODOS OS REPRESENTANTES POLÍTICOS DA BURGUESIA

A suposta tentativa de “Golpe de Estado” promovida por uma horda de lumpens bolsonaristas no dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília, não passou de “fantasia política” do governo burguês da Frente Ampla, com objetivo de legitimar o regime da democracia burguesa, para mascarar a exploração capitalista em nosso país, da qual tanto Lula como Bolsonaro e o togado Moraes são fiéis representantes e desta forma inimigos viscerais da classe operária, independente do verniz político que adotam.

O capitalismo é a verdadeira ditadura da burguesia sobre o proletariado, omitir das massas essa conclusão programática fundamental significa aplicar um verdadeiro “golpe político” contra o povo oprimido.

Somente pessoas muito tolas podem crer em a cúpula das Forças Armadas tupiniquins obedecem a um “comando nacional”, seja do presidente da república como reza a Constituição ou de qualquer outra “autoridade” no Brasil. Desde o golpe militar de 1964, urdido nos bastidores da embaixada norte-americana no Distrito Federal, o Alto Comando das Forças Armadas é selecionado e treinado diretamente pelo Pentágono , de onde partem as ordens militares e políticas que devem ser repassadas para toda oficialidade brasileira.

Durante todo processo eleitoral de 2022, tanto a embaixada ianque em Brasília como a Quarta Frota dos Estados Unidos (responsável pela América do Sul) estiveram em alerta máximo para garantir o retorno do candidato presidencial mais alinhado com as novas diretrizes da Casa Branca: Lula! Supor que os generais brasileiros iriam remar contra uma orientação vinda de Washington para atender os “desejos” de um patético Bolsonaro, beira a estupidez humana…

O golpe da “Democracia Inabalada”, contou primeiramente com a colaboração do contingente de desclassificados bolsonaristas que para sobreviver estavam recebendo “quentinhas” há semanas nas portas dos quartéis de todo o país inconformados com a triunfo de Lula. Com este importante “acervo” nas mãos, não foi difícil para o governo dos verdadeiros golpistas da Frente Ampla montar em Brasília um cenário de “vitimização”, lavando as mãos para uma procissão de lúmpens “cagarem” nas “sagradas“ instituições da república capitalista e com isso provocar um cenário nacional de “indignação democrática”, que uniu desde a direita reacionária mais asquerosa até os supostos “comunistas RR” da reconstrução reformista, todos em rechaço a “gravíssima ameaça” dos “perigosos” bolsonaristas famélicos e desarmados empunhando bíblias e bandeirolas do Brasil em suas mãos.

O evento institucional ocorrido nesta segunda-feira no Congresso Nacional, conseguiu refletir com profunda exatidão o tamanho do “conto do vigário” impulsionado pelo lulopetismo, contando com o respaldo frenético do imperialismo e dos velhos golpistas tupiniquins, hoje todos abrigados no governo da Frente Ampla.

A “surpresa” do “convescote democrático” foi o ingresso adquirido para a festa da burguesia pela esquerda domesticada pelo capital financeiro, que contempla um amplo arco político, percorrendo desde os grupos corrompidos do PSOL até os “comunistas” da RR (reconstrução reformista”) …

3 – UMA REAL TENTATIVA FRACASSADA DE GOLPE DE ESTADO: O GENERAL SYLVIO FROTA

Em 1977, o então Ministro do Exército, Sylvio Frota, articulou um movimento golpista com outros comandantes militares pra impedir a candidatura de João Figueiredo ao Planalto e depor o presidente Ernesto Geisel, que iniciava o processo político junto com Golbery do Couto e Silva que ficou conhecido como o de uma “Abertura Lenta, Segura e Gradual” do regime militar. Frota, um assassino confesso e com muito prestígio na caserna, não aceitava que Geisel e Golbery iniciassem o projeto da Anistia, mesmo que restrita.

Em meados daquele 1977, as duas alas das Forças Armadas, as dos falecidos generais Castello Branco e Costa e Silva, adversárias políticas “ressuscitaram” nas figuras do presidente Ernesto Geisel e do Ministro do Exército, Sylvio Frota, um enfrentamento parecia inevitável e iminente. Quando Frota percebeu que o presidente Geisel havia escolhido como seu sucessor, João Figueiredo, chefe do SNI (atual ABIN), com o objetivo de dar continuidade ao processo de Abertura e Anistia, o general “linha dura” decidiu deflagrar um golpe de Estado, com tanques e artilharia pesada contra o Palácio do Planalto.

Ao saber do avanço da articulação golpista de Frota, que já havia “declarado” guerra, Geisel conversou com Golbery no dia 7 de outubro de 1977, e selaram o expurgo do ministro do Exército. “Fique quieto. Até quarta-feira o assunto estará liquidado”, segredou Golbery ao aliado Humberto Barreto. O segundo a ser avisado por Geisel foi o general Hugo Abreu: “Vou tirar o Frota”, foi o estopim para a marcha acelerada da “ala dura” das FFAA para derrocar o presidente pela via da violência armada.

O diálogo entre Geisel e Frota sobre a “degola” do general golpista foi tenso, segundo o relato de um jornalista íntimo dos bastidores do Planalto:

— Frota, nós não estamos mais nos entendendo. A sua administração no ministério não está seguindo o que combinamos. Eu não acho isso certo. Por isso preciso que você peça demissão.

— Eu não peço demissão — respondeu Frota.

— Bem, então vou demiti-lo. O cargo de ministro é meu, e não deposito mais em você a confiança necessária para mantê-lo. Se você não vai pedir demissão, vou exonerá-lo.

Ao ato de “depuração” da extrema direita do Regime Militar realizado por Geisel e Golbery, Frota tentou levantar-se rapidamente. Convocou uma reunião do Alto-Comando e outros generais. Aliado de Frota, o tenente-coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o “Major Tibiriçá” do DOI, recebeu a incumbência de buscar os generais no aeroporto de Brasília. Ao seu lado, também estava o major Sebastião Rodrigues de Moura, o “Curió torturador” da Guerrilha do Araguaia. A “linha Dura” esperava o importante apoio do general Bentes Monteiro, do Comando Militar da Amazônia, este por sinal acabou sendo o candidato a presidente da república pelo MDB no Colégio Eleitoral, contando com a simpatia política de toda a esquerda reformista, inclusive a Convergência Socialista, hoje PSTU.

Os militares golpistas “mostraram mais de 300 coquetéis molotov no chão e ex­pli­ca­ram a Fro­ta: ‘O senhor está vendo isso aqui. Sabe o que é? É para defendê-lo e atacar o Palácio do Planalto”, revelou posteriormente o general Enio Pinheiro.

Sob um clima de tensão em Bra­sí­lia, o comandante militar do Planalto, general Heitor Furtado Arnizaut de Mattos, e o comandante da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada, general Roberto França Domingues, casado com uma filha do general Orlando Geisel, aliaram-se na defesa militar do presidente Geisel, fechando as portas para a intentona da extrema direita. Contam até que apesar da idade, os generais Figueiredo e Leitão foram até o teto do Palácio com metralhadoras anti-aéreas para se precaver de um possível bombardeio de aviões pilotados por brigadeiros golpistas.

Entretanto o “assalto ao Planalto” estava fadado previamente ao fracasso, independente da correlação das forças militares internas. A linha política defendida por Geisel e Golbery, da “Abertura Lenta e Gradual” do regime gorila tinha sido traçada bem longe de Brasília, mais concretamente em Washington pelo presidente Carter, o Democrata que ocupava a Casa Branca desde 1976. Apesar do Alto Comando das Forças Armadas serem majoritariamente alinhados com Frota e seus generais de “linha dura”, chegavam ao ridículo de considerar Golbery como “representante da Internacional Comunista de Moscou”, a ordem de sustentar Geisel partiu do Pentágono e o grosso da oficialidade tupiniquim acatou disciplinadamente.

Desde o golpe militar de 1964, urdido diretamente pelo Departamento de Estado dos EUA, onde ouve uma depuração absoluta das Forças Armadas de qualquer vestígio de algum militar nacionalista (estes foram para a reserva ou saíram do país) o Alto Comando Militar brasileiro é treinado e subordinado linearmente aos generais do Pentágono, isso não mudou em nada com a ascensão da “Nova República“ ou mesmo com os governos petistas da Frente Popular. Falar hoje em golpe de militares Bolsonaristas da extrema direita sem o aval da Casa Branca, é quase uma anedota narrada para distrair crianças e tolos.

Diante desse relato histórico podemos ter uma mínima noção do que poderia ser realmente uma movimentação conspirativa na caserna, e que desembocaria na organização de um golpe militar, ou pelo menos na tentativa da “intentona” de um setor das FFAA contra um governo estabelecido institucionalmente.

Estabelecendo uma comparação histórica e conceitual com o “8 de Janeiro de 2023”, a pergunta central que os Marxistas Revolucionários lançamos é a seguinte: Será que os Bolsonaristas Lumpens, com bandeirolas e bíblias nas mãos e completamente desarmados, iriam dar um golpe de Estado no governo da Frente Ampla?

A resposta é clara e evidente: não havia a menor possibilidade política e militar de tal fato ocorrer!!! Isto porque a Governança Global do Capital Financeiro, em particular o conjunto dos governos imperialistas, desde os Democratas nos EUA até a Social Democracia da União Europeia, jogaram todas suas fichas para derrotar Bolsonaro e eleger Lula, o representante programático perfeito para impulsionar a Nova Ordem Mundial no Brasil. Não seriam um bando de patetas de extrema direita, desarmados, sem apoio militar e carentes do aval de setores chaves da classe dominante e do imperialismo ianque, que iram derrubar o governo recém eleito ou mesmo ameaçá-lo seriamente.

Quem sustenta a tese estapafúrdia de que a CIA deu apoio operacional a manifestação Bolsonarista para derrubar o governo Lula, como levantou Pepe Escobar ou mesmo para “tentar desestabilizá-lo”, como afirma Rui Pimenta (PCO), busca encobrir que a manifestação Bolsonarista serviu de fato para em um momento inicial fortalecer politicamente o governo da Frente Ampla burguesa, e também em um sentido mais estratégico, deixar a gerência petucana completamente refém dos operadores centrais da Governança Global do Capital Financeiro no Brasil, a saber: STF, Rede Globo e o Alto-Comando das FFAA.

Os Marxistas Leninistas desmascaramos quase solitariamente esta farsa desde o início, refutando dia a dia, artigo atrás de artigo em nosso Blog, a tese fantasiosa do golpe militar Bolsonarista. Denunciamos que a Casa Branca desde a posse de Lula monitora diretamente as FFAA brasileiras no sentido de impor no Alto Comandante generais totalmente alinhados com a “Pauta Democrática” empunhada por Biden e que vem impondo seus gerentes da centro-esquerda na América Latina como elemento de contenção contra a profunda crise capitalista (Lula, Arce, Petro, Boric, Fernandez…). Não havia, portanto, a menor possibilidade de um golpe Bolsonarista derrubar o novo governo e, nem muito menos, o ocorrido em 8 de janeiro pode ser considerado seriamente como uma “tentativa” de fazê-lo! A cantilena distracionista de que os generais Bolsonaristas estavam preparando um golpe (inclusive com o apoio da CIA!) serve apenas para a esquerda corrompida, um arco que vai do PT ao PCO, passando pelo PSTU, PSOL e PCdoB, camuflar os ataques que o governo burguês da Frente Ampla já está perpetrando contra os trabalhadores e a população pobre, garantindo-lhe um importante fôlego político. Esse é o verdadeiro conteúdo do espantalho político e midiático alardeado em torno do inexistente “golpe” contra o governo Lula!

4 – CRESCIMENTO DA PRESENÇA MILITAR DO IMPERIALISMO IANQUE NO GOVERNO DA FRENTE AMPLA

Em maio deste ano, em pleno início do governo da Frente Ampla, o Exército Brasileiro emitiu o seguinte comunicado: “O Comando Militar do Norte (CMN) recebeu entre os dias 15 a 19 de maio, uma comitiva do Exército dos Estados Unidos para mais uma etapa de preparação da Operação CORE 23 (Combined Operation and Rotation Exercise). O exercício combinado com o Exército americano será realizado, pela primeira vez, em território amazônico entre os meses de outubro e novembro deste ano”. No final do mês de novembro a operação militar conjunta com o Pentágono foi encerrada oficialmente na Amazônia, pouco antes da Venezuela realizar um plebiscito para retomar o seu território de Essequibo. O CORE23 contou com a participação de 1.500 militares ianques em território nacional. O vergonhoso acordo da anulação de nossa soberania nacional em questão, que trata da “cooperação” militar entre Brasil e EUA, foi assinado em 2010, durante o segundo governo de Lula e promulgado em 2015, durante o início do segundo governo de Dilma Rousseff.

Em agosto desse ano, militares do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA participaram do Exercício Formosa, perto de Brasília (região Centro-Oeste, perto do Cerrado, geopoliticamente o Heartland da América do Sul). Nesse exercício, os fuzileiros navais norte-americanos tomaram conhecimento das táticas dos nossos fuzileiros navais, sendo educados inclusive em cursos cognitivos, com a “Finalidade declarada de fortalecer a integração dessas forças para enfrentarem desafios de segurança comuns”.

Em julho, por sua vez, a Marinha do Brasil participou do UNITAS 2023, um exercício naval organizado pelo SOUTHCOM, que esse ano se deu na Colômbia (no ano passado ocorreu no Brasil). O objetivo declarado era o de permitir aos EUA operar como parte de uma força marítima maior para “controlar o mar e bloquear o acesso a potenciais inimigos”.

Os ianques estiveram aqui, também, em setembro de 2022, no Paraná, sul do Brasil, no QG da 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada para exercícios de estratégia conjunta para a participação militar em um “hipotético país latino-americano passando por uma crise humanitária”. Entre agosto e setembro, de 2022, por sua vez, a Força Aérea dos EUA participou do EXCON Tápio, no Mato Grosso do Sul (região sensível para a Agropecuária brasileira) cuja finalidade foi o “desenvolvimento doutrinário de táticas conjuntas, visando a contribuição para a ordem e paz mundial”.

Em meados do ano, além do já mencionado UNITAS 2022, desenvolvido no Brasil, o governo Lula enviou militares para serem doutrinados nos EUA no âmbito do CORE23.

É desnecessário continuar especificando exercício por exercício militar com o Pentágono, com o objetivo de demonstrar uma tendência crescente para o aumento da integração entre as Forças Armadas do Brasil e dos EUA, bem como para o aumento da “influência” do imperialismo ianque sobre a formação dos quadros militares brasileiros. Está cristalino para qualquer pessoa com um mínimo de percepção, que sob os governos burgueses da Frente Popular vêm crescendo a submissão militar do país aos ditames geopolíticos da Casa Branca

A estratégia do imperialismo ianque em instrumentalizar militarmente o Brasil contra o regime Chavista da Venezuela, parece não ter terminado com o fim governo da direita bolsonarista, muito pelo contrário! O governo lulopetista da esquerda burguesa se mostra ainda mais capacho diante do seu “Amo Imperialista do Norte”.

5 – PENTÁGONO MANDA EXONERAR COMANDANTE BRASILEIRO QUE NÃO SE ENQUADROU NA “PAUTA DEMOCRÁTICA” DA CASA BRANCA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu neste sábado o general Júlio César de Arruda do cargo de comandante do Exército. A ordem para exonerar Júlio veio diretamente do Pentágono, a Casa Branca desde a posse do velho pelego petista monitora diretamente as FFAA brasileiras no sentido de impor no Alto Comandante generais totalmente alinhados com a “Pauta Democrática” empunhada por Biden para desviar a latente rebelião popular mundial contra a profunda crise capitalista.

O general que agora assumiu o comando do exército,Tomás Miguel, fez um discurso na última quarta-feira(18/01), em um evento militar, defendendo enfaticamente a “democracia” e a “lisura” processo eleitoral fraudulento em triunfou Lula. A “narrativa democrática“ do General Tomás, genocida do povo haitiano, feito em uma tribuna militar para golpistas crônicos, parecia ter sido redigida na redação das Organizações Globo, que por sinal representa oficiosamente o Departamento de Estado ianque em nosso país. A ilusão difundida pela esquerda tupiniquim,adomesticada pelo capital financeiro, de que as FFAA são “bolsonaristas” significa um distracionismo completo para o movimento operário.

Desde o golpe militar de 1964, que instalou o regime dos generais por vinte anos no Brasil e deitou raízes até hoje, o Alto Comando Militar brasileiro é treinado logisticamente, preparado políticamente e nomeado diretamente pelo Pentágono. A lorota de que os generais bolsonaristas estavam preparando um golpe no patético 8 de Janeiro, serve apenas para camuflar os ataques que o governo burguês da Frente Ampla já está perpetrando contra os trabalhadores e a população pobre. Como o conjunto da esquerda reformista substituiu a luta de classes contra o capitalismo, pela pendenga eleitoral “esquerda X direita”, Lula segue livre para fazer toda sorte de demagogia indentitária, eco-imperialista e “democrática”, enquanto desfere uma ofensiva neoliberal contra as condições de vida do proletariado brasileiro.

6 – A PATÉTICA MARCHA BOLSONARISTA A BRASÍLIA PODE SER COMPARADA A UMA TENTATIVA DE “REVOLUÇÃO COLORIDA”?     

Em um recente artigo publicado no site português “Resistir”, o renomado jornalista Pepe Escobar, um dos maiores especialistas em análises de “Guerra Híbrida” e “Deep State”, tenta nos convencer que a patética marcha da direita bolsonarista ao Distrito Federal (uma ação que agrupou por volta de 20 mil indivíduos desarmados, na sua grande maioria composta de lumpens portanto bíblias e bandeirolas do Brasil) foi uma operação montada pelo Deep State/CIA contra o debutante governo da Frente Ampla, Lula&Alckmin.

Longe de desqualificar a “tese” levantada por Pepe como “teoria da conspiração”, como costuma fazer a esquerda domesticada exatamente pela Governança do Capital Financeiro que tenta esconder seus movimentos como um fruto de mentes “conspiranóicas”, procuramos demonstrar nessa polêmica com Escobar justamente o oposto a sua “tese”, ou seja, o Deep State/CIA neste caso “veste a camisa” da Frente Ampla, conduzindo desde a vitória eleitoral fraudulenta de Lula através das urnas “roubotrônicas” até a montagem de seu gabinete.

Mas primeiro vejamos o argumento central de Pepe: “Um antigo responsável de inteligência norte-americano confirmou que a caótica reencenação do Maidan em Brasília a 8 de Janeiro foi uma operação da CIA e ligou-a às recentes tentativas de revolução colorida no Irã… De acordo com a fonte estado-unidense, a razão para encenar agora a operação – a qual apresentou sinais visíveis de planeamento às pressas – é que o Brasil está pronto para se reafirmar na geopolítica global ao lado dos demais estados BRICS, Rússia, Índia e China.” (Pepe Escobar, “Porque a CIA tentou um golpe Maidan no BRASIL”, 10/01/23).

É preciso deixar bem claro que a esta polêmica com Pepe se desenvolve em patamares bem distintos, Escobar é um jornalista muito bem preparado e sem sombra de dúvida maneja informações privilegiadas, das quais muitas vezes não dispomos. Porém, Pepe não representa uma organização política militante do marxismo e sequer mesmo da esquerda em geral, é um jornalista profissional e vai onde “o vento sopra melhor”, como diz o velho ditado popular :“Quem paga a banda escolhe a música”. Neste caso fica muito evidente a “forçação de barra” que faz Pepe para tentar apresentar Lula como uma liderança internacional anti-imperialista.

Escobar como um jornalista mutíssimo informado sabe muito bem que o conjunto dos governos imperialistas, desde os Democratas nos EUA até a Social Democracia da União Europeia jogou todas suas fichas para derrotar Bolsonaro e eleger Lula, o representante programático perfeito para impulsionar a Nova Ordem Mundial no Brasil.

O PT se converteu na pandemia forçada do Coronavírus um fiel apologista de todos os protocolos impostos pela OMS&Bigpharma, desde a defesa dos bloqueios econômicos “sanitários” para quebrar a “velha indústria do carbono” e favorecer as chamadas “novas tecnologias” (Bigtech), rebaixando consideravelmente o preço internacional das comodities minerais, evitando assim uma crise desastrosa na economia chinesa e que desencadearia graves consequências para acelerar o colapso global do modo de produção capitalista.

Mas o enquadramento de Lula e seu arco político da Frente Popular à Nova Ordem pandêmica não se limitou ao apoio da farsa sanitária decretada pela OMS&BigPharma, foi muito mais além. O PT também legitimou a imposição operada pela Governança Global do Capital Financeiro para que o Estado Nacional “decuplicasse” sua dívida pública para fazer frente com os onerosos custos da pandemia, primeiro o “auxílio emergencial”, depois os hospitais (abatedouros) de campanha, respiradores etc., e para finalizar com “chave de ouro” a compra bilionária das “eternas“ doses das vacinas experimentais, que matam muito mais do que imunizam.

Obviamente Bolsonaro (já descartado em 2020 pela elite rentista tupiniquim), mesmo esboçando algum “resmungo”, seguiu direitinho a cartilha do Fórum de Davos (a face pública e social da Governança), acabando de falir o Estado nacional, queimando as reservas cambiais e triplicando a impagável dívida pública. Não poderia surgir, neste cenário potencialmente explosivo para os próximos anos, um elemento melhor do que o governo do tipo da Frente Ampla de colaboração de classes, totalmente alinhado com a Governança Global do Capital Financeiro.

Para encerrar e não cansar a paciência de nosso leitores já fartos com as tiradas demagógicas do Lulopetismo que depois de mais de uma década de gerências neoliberais só ilude os tolos e corrompidos pela Frente Popular, vamos ao equívoco fulcral de Escobar: o conceituado jornalista apesar de possuir grande expertise em se tratando de “Guerra Híbrida”, parou no tempo e não consegue enxergar que o atual “campo de batalha” não é mais travado entre governos nacionais, mesmo que tenham características hiper imperialistas, como os dos EUA.

A Guerra Híbrida contemporânea, que teve sua dinâmica potencializada após o fim da Segunda Guerra Mundial, encerramento da “Guerra Fria” seguida da destruição contrarrevolucionária da URSS e a conversão da China em maior economia industrial capitalista do planeta, tem um único “braço armado operacional”, o Deep State, e que também serve a um único senhor apátrida, ou seja a Governança Global do Capital Financeiro.

Este verdadeiro conluio do rentismo internacional que de fato governa o mundo, não tem nacionalidade ianque, chinesa, francesa ou britânica, etc… investe seu fluxo de capital monstruoso absorvendo as burguesias locais em corporações transnacionais, dominando países que podem até mesmo estar em conflito político ou militar entre eles, não importa! A Governança Global do Capital Financeiro não tem “preferências” étnicas ou culturais, aporta sua imensurável massa de capital na melhor rentabilidade possível e para garantir não ter surpresas com expropriações e defaults, controla politicamente os governos burgueses, sejam imperialistas ou periféricos. Talvez hoje a única exceção planetária a esta terrível Ditadura Global (Shadow Dictatorchip) seja o Estado Operário Coreano.

Por essa razão soa até pueril e sem qualquer base científica no marxismo, falar em um “novo mundo multipolar”, como tenta demonstrar Pepe nomeando Putin, Xi Jinping e Lula como os “cavaleiros” desta suposta cavalgada contra o imperialismo ianque. Seria melhor e intelectualmente mais honesto, catalogar todos estes “funcionários” da Governança Global, como Biden, Macron, Olaf, Lula, Xi Jinping, Petro, Obrador, e até mesmo Putin, como os vassalos servis da Nova Ordem Mundial do Capital Financeiro.

7 – NOSSA POSIÇÃO DIANTE DA “CORTINA DE FUMAÇA” EM CONDENAR A SUPOSTA “TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO”

As manifestações Bolsonaristas de 08/01/2023 demonstraram que é o impotente governo da Frente Ampla burguesa comandado por Lula que pavimenta o caminho para o verdadeiro fascismo ao se colocar na condição de refém do aparato repressivo do Estado burguês e das instituições da carcomida república burguesa. Para Lula ganhar de Bolsonaro nas últimas eleições foi preciso operar a fraude via as urnas roubotrônicas avalizada pelo TSE e as FFAA.

Não por acaso, o petista voltou a cena com uma frente burguesa ainda mais direitista e vai atacar as conquistas operárias e impor um duro ajuste neoliberal, jogando as massas nas mãos da extrema-direita diante das profundas desilusões. Nesse movimento a Frente Popular, recorrendo ao discurso da “civilização versus a barbárie” ou “democracia contra o fascismo”, chantageia as organizações de esquerda e o ativismo classista a lhe dar um “cheque em branco”: aceitem todas as alianças, temos que nos unir para derrotar o fascismo! Nota-se que não há nenhum chamado a classe operária para entrar em cena, ao contrário, teríamos que dar as mãos aos inimigos históricos dos trabalhadores, assumidos neoliberais e rentistas, como Alexandre de Moraes, Alckmin, Marina, Múcio em nome de derrotar a “extrema-direita”, legitimando as instituições fraudadas do regime político pseudo-democrático que hoje são as que estão atuando para restringir as liberdades democráticas e incrementar as perseguições políticas, que hoje se voltam pontualmente contra as hordas bolsonaristas mas que tem como alvo a classe trabalhadora organizada e a esquerda revolucionária.

A grande lição programática que a vanguarda classista dos trabalhadores deve abstrair é que a ação direta das massas deve ser o centro da luta de classes para demolir o Estado capitalista e suas instituições apodrecidas, porém desgraçadamente hoje é a extrema direita que detém esse protagonismo.

O eixo principal dos Marxistas Revolucionários não é atacar a manifestação Bolsonarista como expressão do crescimento do fascismo, embora esse fenômeno é latente e deve se desenvolver no curso do desgaste do governo da Frente Ampla. O centro de nossa agitação e propaganda neste momento é desmistificar o mito do respeito à democracia e da “sacralidade” das instituições do Estado burguês!

Como vemos desde ontem, não há um chamado a luta direta e a resistência nas ruas, o PT pede que marchemos unidos com nossos algozes pretensamente “democráticos” para “golpear o fascismo”. Os Trotskistas da LBI denunciam que essa fórmula não é uma “frente única antifascista” e sim uma frente de colaboração de classes, uma aliança que não avança a resistência do proletariado, por essa razão seria uma profunda capitulação política apoiar o governo Lula mesmo criticamente, como faz o PSTU.

Com a derrota de Bolsonaro, o governo de “união nacional” comandado por Lula aplicará também o ajuste ditado pelo imperialismo. O “detalhe” é que em um quadro de profunda desmoralização do movimento de massas, exponencialmente perigoso e não de luta aberta direta.

A atual ofensiva fascista é produto direto do fracasso dos governos centrais do PT, que distribuíram farto crédito para uma parcela da população que também teve acesso a uma certa melhoria dos serviços públicos em geral. Mas como não deram um único passo na ruptura com o regime, quando a bolha de crédito internacional gerada pela venda de commodities retraiu com a desaceleração da economia, a massa despolitizada que hoje é base de Bolsonaro se virou contra o PT.

Lembremos que Dilma, atendendo a exigência dos rentistas, colocou para comandar nossa economia um banqueiro do Bradesco para iniciar a retirada de direitos históricos dos trabalhadores. Tanto que no início de 2015, o “Fora Dilma” logo evoluindo para um fascismo declarado. A resposta do PT foi sempre a pior possível para cada avanço da direita, desde nomear Temer para comandar o gabinete político do governo em plena crise e conspiração aberta da direita.

Derrotar o fascismo, pouco tem a ver com “votar bem”, seu triunfo ou não está relacionado a correlação de forças da luta de classes. Na verdade, um novo estelionato eleitoral do PT com Lula terá proporções trágicas como vimos nos atos de hoje dos Bolsonaristas!

Muitos ativistas honestos questionam a LBI se não deveríamos apoiar “criticamente” o governo do PT para “derrotar o fascismo”, denunciando as alianças de Lula com a direita e proclamando formalmente a “independência política” diante da Frente Popular. Respondemos que NÃO! Os Trotskistas estão pela unidade de ação contra o fascismo e não pela formação de um bloco político comum com a Frente Popular, que desarma a resistência de classe.

Leon Trotsky no artigo “O perigo fascista ronda a Alemanha” (setembro de 1939) aponta lições importantes nesse sentido para nós que reivindicamos seu legado. Nosso mestre Bolchevique nos ensina que “A primeira qualidade de um autêntico partido revolucionário é a de ser capaz de olhar a realidade frente a frente. Para que a crise social possa ser conduzida para a revolução proletária, é necessário que, ao lado de outras condições, se dê um decisivo movimento das classes pequeno burguesas em direção ao proletariado. Isto daria ao proletariado a chance de se colocar à frente da nação e liderá-la. As últimas eleições revelam uma tendência na direção oposta. Sob o impacto da crise, a pequena burguesia tem se inclinado não pela revolução proletária e sim pela mais radical reação imperialista, levando consigo, nessa direção, um considerável setor do próprio proletariado. O gigantesco crescimento do nazismo é resultado de dois fatores: uma profunda crise social, que desestabiliza o equilíbrio das massas pequeno burguesas, e a carência de um partido revolucionário que apareça diante das massas populares como uma reconhecida liderança revolucionária. Se o Partido Comunista é o partido da esperança revolucionária, o fascismo é, como movimento de massas, o partido da desesperança contra-revolucionária. Quando a esperança revolucionária abraça as massas proletárias por completo, isso empurra inevitavelmente no caminho da revolução consideráveis e crescentes setores da pequeno-burguesia. Precisamente nesse plano, as eleições oferecem a imagem oposta: a desesperança contra-revolucionária abraça as massas pequeno burguesas com tanta força que empurra importantes setores do proletariado… O fascismo na Alemanha tem-se convertido num perigo real, como uma aguda expressão da posição de desamparo em que se acha o regime burguês, do papel conservador da social-democracia nesse regime e da impotência acumulada pelo Partido Comunista para derrubá-lo. Quem negar isto é cego ou um fanfarrão. É certo que a social-democracia preparou, com a sua política, o florescimento do fascismo, mas é certo também que o fascismo supõe uma ameaça mortal primeiramente para a própria social-democracia, cuja força está indissoluvelmente ligada às formas e métodos democrático-parlamentares e pacifistas de governo. A crise social produzirá inevitavelmente uma profunda cisão no seio da social-democracia. A radicalização das massas afetará os sociais-democratas. Nós teremos que chegar a acordos, inevitavelmente, com diversas organizações e facções sociais-democratas contra o fascismo, colocando condições precisas aos seus líderes, diante dos olhos das massas… Devemos abandonar as declarações vazias sobre a frente única e voltar à política de frente única tal como ela foi formulada por Lenin e sempre aplicada pelos bolcheviques em 1917”.

A extensa citação ao texto se faz necessária para apontar as tarefas dos revolucionários nesse momento no Brasil que poderíamos sintetizar no “Marchar separados e golpear juntos”, sendo necessário que as massas saiam às ruas para lutar contra o governo Lula e a extrema-direita, fazendo oposição operária, popular e revolucionária ao governo da Frente Ampla burguesa.

Longe de alimentar métodos “democráticos-parlamentares” ou “pacifistas” em nome do combate o fascismo como apregoa hoje o PT e o PSOL com seu chamado a apoiar uma frente neoliberal “democrática”, devemos como Trotskistas para combater decididamente contra a reação burguesa nas ruas, fábricas, escolas, construir a Greve Geral, o que exige combater o próprio governo Lula!

A orientação nos legada pelo fundador da IV Internacional é justamente o oposto do que vem fazendo o PSOL, PSTU, MRT e todas as correntes revisionistas do trotskismo abrigadas na legenda. Chamam a unidade contra o fascismo, aceitando a “ampla frente” com os neoliberais e rentistas, rendem-se a chantagem do PT. Esse é o caminho suicida, o mesmo que levou ao golpe parlamentar de 2016, a prisão de Lula e a farsa eleitoral porque não é capaz de enfrentar a reação burguesa com os métodos da classe operária, pavimentando o sangrento caminho da derrota, como ocorreu no Chile de Allende ou no Espanha na década de 30, para não falar da Alemanha, como pontuou Trotsky.

A história cobrará um alto preço por essa decisão de capitulação da esquerda que se diz revolucionária ao PT, que como Trotsky nos ensinou, reflete uma “impotência acumulada” diante das necessidades da luta de classes, de combater o fascismo pela via da Revolução e não da capitulação ao PT, na medida que é o novo governo Lula que pavimenta o caminho para o verdadeiro fascismo! Apoiar o governo da Frente Ampla irá pavimentar um caminho muito perigoso, que é o de deixar para a extrema-direita, incluindo os fascistas, a captação da decepção que inevitavelmente ocorrerá entre os trabalhadores.

8 – MANIFESTAÇÃO BOLSONARISTA É SEM DÚVIDA UM MARCO NA DESMORALIZAÇÃO DO REGIME BURGUÊS

Um parlamento ocupado, a sede do covil golpistas do STF depredado e o Palácio do Planalto “maculado”, por uma manifestação desarmada e que contou com pouco mais de dez mil ativistas da direita, será que a esquerda reformista questionou o fato de que as instituições da república do capital foram “avacalhadas” facilmente por um pequeno bando bolsonarista, mas e se fossem as Forças Armadas ou as PM’s, Lula sairia de Brasília escorraçado, como aconteceu com o boliviano Evo Morales em 2019? Ou será que o pústula do Xandão iria convocar os covardes togados para a resistência armada?

A conclusão é clara, Lula é um gerente que só governa sob a proteção do imperialismo e sua Nova Ordem Mundial, não impulsiona nenhum obstáculo ao crescimento da extrema direita, o governo da Frente Ampla é na verdade a grande incubadora do fascismo em nosso país.

O aparato militar brasileiro, seus generais e altos comandantes das FFAA batem continência ao Pentágono e não ao velhote da colaboração de classes. Se existe algum perigo da gestação de um golpe de Estado, este não virá das patéticas hordas bolsonaristas, e sim do próprio ventre das chamadas “instituições democráticas”.

9 – OCUPAÇÃO DO PARLAMENTO, STF E PLANALTO PELA DIREITA BOLSONARISTA

Manifestantes da direita bolsonarista furaram um bloqueio policial e ocuparam o Congresso Nacional em 08/01. Diante deste fato político, que não é inédito na história recente do país, relembrar a ocupação da Câmara dos Deputados realizada pelo MLST em 2006, os Marxistas Leninistas não hipotecam nenhuma solidariedade política com esta instituição do Estado capitalista, inimiga da classe operária e repleta de políticos burgueses, reacionários e corruptos, além é claro dos demagogos da esquerda reformista.

Os Comunistas Revolucionários não participam nem tampouco apoiam os “protestos” da direita dita “golpista”, mas assinalam vigorosamente que golpes de Estado são articulados nas entranhas das próprias instituições desta república do capital, como as FFAA, STF e o próprio Congresso que agora se arvora na condição de “paladino da democracia”.

10 – A “NOVA POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA”: UM MANUAL DE COMPLETA SUBSMISSÃO DAS FFAA DO BRASIL

O Alto Comando Militar das nossas FFAA, desde Castelo Branco até hoje, não dá um único passo sem o consentimento do Pentágono, que vem formando os generais brasileiros de “três estrelas” em suas “escolas de estratégia militar”.

Não é segredo para ninguém que os conselheiros militares do Pentágono ditam orientações para as FFAA de toda a América Latina, desde o período da Guerra Fria. Bolsonaro é um “experimento” político do imperialismo para todo o continente, sua eleição (fraudada, uma das especialidades da CIA) em 2018 seria impossível caso o Partido Democrata tivesse conseguido se manter na Casa Branca.

O “projeto” consistia em impor um regime de força para executar as (contra)reformas exigidas pelo mercado. Nesse contexto, a nova Política Nacional de Defesa (PND), que deverá ser encaminhada ao Congresso na próxima semana, apontou que a América do Sul não é mais considerada uma “área livre” de conflitos. O texto ressalta a possibilidade de “tensões e crises” no continente, que podem levar o Brasil a ter que mobilizar esforços para garantia de supostos interesses nacionais na Amazônia ou mesmo ajudar na solução de problemas regionais sempre seguindo as ordens do Pentágono.

O documento de 21 páginas traz um alerta para as possibilidades de conflitos. “Não se pode desconsiderar tensões e crises no entorno estratégico, com possíveis desdobramentos para o Brasil, de modo que poderá ver-se motivado a contribuir para a solução de eventuais controvérsias ou mesmo para defender seus interesses”, em um aviso claro a Venezuela de Maduro. Nesse sentido, Bolsonaro assinou em março um acordo militar com o Almirante Craig Faller, comandante do Comando Sul americano para “’melhorar ou fornecer novas capacidades militares” em preparação a uma ação contra a Venezuela. O Comando Sul dirige as operações militares dos Estados Unidos no Caribe, na América Central e do Sul.

O Acordo de Projetos de Pesquisa, Testes e Avaliação abre caminho para que EUA e Brasil “desenvolvam futuros projetos conjuntos alinhados com o mútuo interesse das partes, abrangendo a possibilidade de aperfeiçoar ou prover novas capacidades militares”. Em março do ano passado, os dois presidentes assinaram um acordo de salvaguardas tecnológicas que permite o uso da base de Alcântara (no norte do Brasil) para o lançamento de foguetes norte-americanos. Não por acaso, o governo venezuelano denunciou um plano dos EUA de desencadear um conflito que justificaria uma intervenção militar na Venezuela com a ajuda dos vizinhos Colômbia e Brasil.

Lembremos que em fevereiro de 2019, o chamado “Dia D”, impulsionado pela farsesca operação “Caballo de Troya” na Venezuela, acabou resultando no maior fiasco político e militar do imperialismo ianque e na completa humilhação dos governos capachos da região, como Duque e Bolsonaro. A chegada de novas armas balísticas em Caracas vindas de Moscou  há um ano atrás com mísseis de longo alcance que podem atingir até o território ianque em conjunto com os caças Sukhoi desequilibram a relação de forças entre a Venezuela e o restante dos países do continente.

Nós Trotskistas defendemos o pleno direito do regime chavista armar-se “até os dentes”, inclusive com artefato nuclear, para dissuadir os chacais imperialistas e seus vassalos latino-americanos de atacarem as conquistas sociais instauradas pelo regime nacionalista chavista. O alinhamento automático e a submissão ilustrada pelo vergonhoso vídeo de um general brasileiro tratado como empregado pelo chefe do comando sul dos EUA, o mesmo responsável por possíveis ações armadas contra países latino-americanos é uma prova de como funcionará a “nova” política nacional de defesa do Brasil, um verdadeiro manual de submissão das FFAA brasileiras ao imperialismo ianque e seus comandantes militares!