O PT completa 45 anos de existência política ao mesmo tempo em que sua principal liderança política, Lula, se encontra em aberta decrepitude política, desgastado em seu terceiro mandato pelo programa neoliberal que aplica contra os trabalhadores. Os Marxistas Revolucionários analisaram ao longo de décadas as causas dessa realidade, que agrega uma brutal ofensiva burguesa contra as conquistas sociais e democráticas do proletariado brasileiro e um profundo desgaste político que abriu caminho para o crescimento da extrema direita institucional.
Essa realidade foi sendo gestada ao longo dos 45 anos, justamente o período histórico da vigência dos governos petistas de conciliação de classes. As seguidas gestões da Frente Popular à cabeça do governo nacional amorteceram a luta de classes. Esse paradoxo que perpassa a “crise existencial” do PT é um produto acumulado de suas próprias dubiedades ao longo de sua vida política, um partido que estampa no nome a independência de classe e ao mesmo tempo desde sua origem rejeita categoricamente os desafios programáticos do proletariado, como o marxismo e o socialismo revolucionário.
Logo nos primeiros debutes eleitorais de 1982,1985 e 1988 os dirigentes do PT descartaram as alianças políticas com outros partidos burgueses, para em seguida governarem municípios favorecendo grandes empresas, principalmente no ramo do transporte urbano. Depois vieram os governos estaduais em 90, 94 e 98, o “véu” da independência de classe caiu por completo com as gestões voltadas para o capital em detrimento das demandas populares. Já não poderia haver a menor sombra de dúvida que a vitória presidencial de 2002 marcaria o início de um governo central capitalista, lastreado na política de colaboração de classes. A Frente Popular no comando do Estado Burguês, favorecida pela conjuntura econômica internacional impulsionou grandes negócios e créditos para a burguesia tupiniquim, o PT entrou definitivamente no rol dos partidos que empreendiam campanhas eleitorais milionárias (talvez bilionárias até), mas passado o ciclo temporal do binômio “crédito/consumo” se vê agora desgastado como um partido burguês em 2025.
Para que possamos compreender a crise e o atual impasse dos rumos do PT, é necessário resgatar um enunciado básico do marxismo completamente “esquecido” pelos agentes políticos da Frente Popular: Conquistar eleitoralmente a gerência do Estado burguês não significa o mesmo que obter o poder político do Estado capitalista. Este poder estatal nunca esteve nas mãos dos presidentes eleitos pelo PT (Lula e Dilma).
Com o golpe parlamentar seguido da prisão de Lula é completamente cristalino até para qualquer leigo, o poder de Estado se deslocou para coagir e reprimir os quadros dirigentes do PT que depois de Bolsonaro voltaram ao governo com uma orientação ainda mais direitista.
A esquerda revisionista que acompanhou organicamente boa parte da história do PT, ou mesmo a que agora retorna ao partido por outras vias como é o caso do PCO, sempre apontou que a “primeira etapa” da vida política petista teria sido “altamente progressista”, esta análise sem conteúdo de classe significa um gravíssimo equívoco!
O PT não se degenerou quando veio a ocupar o Planalto, apenas exerceu seu “direito”, de operar os negócios do Estado burguês. Uma organização que jamais foi operária ou revolucionária, a evolução política do PT ocorreu pela via programática de um partido originalmente pequeno burguês até se consolidar como mais uma legenda da classe dominante, com a peculiaridade de não ter em seus quadros nomes representativos da burguesia nacional.
Nesta trajetória de “transição”, o PT conseguiu deletar a referência classista dos primeiros anos de vida para abraçar o discurso da “cidadania plena”, o que obviamente para sua liderança partidária representava o “direito de consumo” antes de mais nada. Por isso mesmo o grande mote político do partido foi de ter levado “os brasileiros para obter acesso ao mercado de consumo”. A estruturação de um movimento de massas que viesse a romper os limites de um “capitalismo com uma face democrática” nunca nem passou “pelos pesadelos ou sonhos” de Lula, sua tarefa e de seu partido era radicalmente oposta: “Fornecer sustentabilidade ao capital”.
Com uma plataforma de governo onde não existia sequer a execução de uma única reforma progressista, as variações do mercado impuseram a pauta do “modelo de gestão petista”, a chegada da recessão mundial desgraçadamente esvaziou o “saco de bondades” do PT, tanto que Lula em seu terceiro mandato está completamente desgastado.
Por ironia da história, o PT que teve no mínimo duas vitórias roubadas (89 e 94) pela fraude oficial do TSE, teria utilizado este mesmo instrumento estatal para evitar a eleição do tucano Aécio Neves em 2014. Este elemento combinado ao esgotamento total do “milagre econômico lulista” potenciou uma enorme pressão demolidora gerada a partir das classes dominantes sobre os mandatos de Dilma e agora de Lula, que voltou ao Planalto produto de uma fraude eletrônica operada contra Bolsonaro pelo TSE com o apoio da CIA.
Abstrair as lições que marcam os 45 anos de vida do PT é um passo programático fundamental para a vanguarda classista brasileira superar a política de pacto com a burguesia que a Frente Popular até hoje desenvolve, tanto no Planalto como nas gestões burguesas regionais que reproduzem a mesma pauta neoliberal ditada pelos rentistas. Não há dúvida que a Social Democracia petista é incapaz de compreender seus graves erros históricos, em função de sua própria natureza de classe, a vanguarda classista do proletariado deve assumir a gigantesca tarefa de reconstruir o projeto de um partido representativo da classe operária, a começar pelo resgate do programa revolucionário que aponte para o genuíno socialismo.