Enquanto o governo dos Estados Unidos afirmava que El Chapo Guzmán era o traficante de drogas mais procurado do planeta, o DEA (Departamento de Repressão às Drogas) sentava-se à mesma mesa com o bandido todos os dias. De 2000 a 2012, o DEA colaborou com o cartel de Sinaloa, liderado por El Chapo, ignorando o contrabando de drogas para os Estados Unidos em troca de informações sobre cartéis rivais. O relacionamento “promíscuo” entre o tráfico de drogas de origem mexicana e os organismos policiais norte-americanos veio à tona principalmente por meio de uma investigação do jornal mexicano El Universal publicada em 2024, com base em documentos judiciais dos EUA.
Entre 2000 e 2012, agentes do DEA se encontraram mais de 100 vezes com líderes do Cartel de Sinaloa, incluindo Humberto Loya-Castro, advogado de membros do cartel. As reuniões faziam parte de um acordo no qual o cartel forneceu informações valiosas sobre organizações rivais, como os Zetas e o Cartel de Juárez, enquanto o governo dos EUA fazia vista grossa para suas operações de tráfico de drogas.
Um agente graduado do DEA, Steve Fraga, e um promotor do Departamento de Justiça, Patrick Hearn, testemunharam em um tribunal de Chicago, apoiando essa colaboração. Informações fornecidas por Loya-Castro levaram à apreensão de 23 toneladas de cocaína ligadas a outras quadrilhas de traficantes.
Um caso notável relacionado a essa colaboração é o de Vicente Zambada-Niebla, filho de Ismael “Mayo” Zambada, outro líder do Cartel de Sinaloa. Após ser extraditado para Chicago em 2010, Zambada-Niebla alegou em sua defesa que tinha imunidade de acusação porque ele e o cartel haviam cooperado ativamente com o DEA.
Seu advogado argumentou que, desde o final da década de 1990, Loya-Castro havia negociado um acordo com as autoridades policiais dos EUA, aprovado por altos funcionários e promotores, que permitia ao Cartel de Sinaloa operar sem interferência em troca de informações. Zambada-Niebla até sugeriu que a Operação Velozes e Furiosos — na qual armas dos EUA foram vendidas a traficantes para rastreá-los — fazia parte do pacto.
O período de maior coordenação, segundo o periódico El Universal, ocorreu entre 2006 e 2012, coincidindo com a ascensão do Cartel de Sinaloa como organização dominante no México, em meio à violência extrema durante a chamada “guerra às drogas” promovida pelo então governo lacaio mexicano.
A liberdade desfrutada por El Chapo Guzmán e outros traficantes de drogas mostra que a “carta branca” foi eficaz não apenas nos Estados Unidos, mas também no México. Em 2019, Zambada-Niebla foi uma das principais testemunhas no julgamento contra El Chapo em Nova York. As conexões políticas do Cartel de Sinaloa com o governo mexicano, bem como com outros, mais uma vez vieram à tona no julgamento.
Embora o DEA e outras agências dos EUA se recusem a comentar oficialmente as provas de cumplicidade no tráfico de drogas, documentos judiciais e declarações dos envolvidos demonstram que tais esquemas são comuns e que as forças policiais dos EUA( DEA, FBI e CIA), são as maiores traficantes de drogas do mundo inteiro.