O telefonema entre Putin e Trump e os encontros de representantes russos e norte-americanos nas últimas semanas não trataram “apenas” da questão ucraniana, tanto que o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou recentemente “A Rússia acredita que os Estados Unidos e o Irã devem resolver todos os problemas por meio de negociações e está pronta para fazer tudo o que estiver ao seu alcance para conseguir isso”. Trump deseja também “normalizar” as relações com a Rússia para enfrentar o Irã, o objetivo estratégico do imperialismo ianque é derrubar o regime nacionalista burguês dos Aiatolás para preservar Israel e controlar a região do Oriente Médio. Nessa sórdida tarefa o presidente norte-americano e o Deep State estão juntos. Trump quer a garantia de que Putin não ajudará militarmente o Irã se os Estados Unidos lançarem um ataque a Teerã e precisa saber que a Rússia não lutará ao lado do Irã, apesar da assinatura de um “Acordo de Associação Estratégico” entre os dois países no início de 2025.
O acordo prevê, entre outras coisas, “desenvolver a cooperação militar” e se apoiar mutuamente frente a “ameaças à segurança”, conforme o conteúdo do documento de 47 artigos publicado pelo Kremlin após a assinatura. De acordo com o texto, se Rússia ou Irã forem alvo de uma “agressão”, o outro país não forneceria nenhuma “ajuda” ao agressor. No entanto, este ponto não contempla que os países signatários ofereçam assistência militar em tal situação. Moscou assinou um texto de mesmo nome com o Estado Operário da Coreia no ano passado, mas um artigo do documento firmado com Pyongyang estabelece “ajuda militar imediata” em caso de agressão armada por parte de um país terceiro.
O acordo Rússia-Irã apenas compromete ambas as partes a cooperar em questões de defesa mútua em caso de guerra. O tratado estipula que, se uma parte for atacada, a outra não ajudará o agressor e buscará resolver as diferenças por meios diplomáticos, sugerindo um certo nível de cooperação sem garantir intervenção militar direta. Embora a Rússia não seja obrigada a enviar tropas para o solo, ela pode fornecer armas, inteligência e apoio logístico ao Irã. Desgraçadamente nada apontar nesse caminho!
Caracterizamos que ao avançar contra a Síria, o imperialismo ianque e Israel derrubaram o regime Assad para chegar em melhores de condições de combate contra o seu principal alvo na região, o Irã. O processo de queda do governo de Bashar Al Assad por parte do imperialismo e de Israel, através do apoio a grupos internos “rebeldes” tribais arquirreacionários, representou o plano do Deep State de alterar completamente a chamada geopolítica do Oriente Médio, colocando sob seu controle não só a Síria, mas avançando em sua ofensiva sobre o Hezbollah no Líbano e, caso tenha sucesso nesta empreitada neocolonialista, assentando as bases para um ataque militar ao Irã, já que não conseguiu o apoio interno necessário para debilitar o regime nacionalista.
Como o Blog da LBI alertou anteriormente o “namoro” que Putin quer estabelecer com Trump, a partir das declarações do reacionário Republicano de que forçaria uma rendição da Ucrânia, cortando as linhas de financiamento militar para o regime nazifascista de Zelensky, conduzirá inexoravelmente a uma estrepitosa derrota da Rússia frente a ofensiva imperialista global, acabando por cercar Moscou militarmente.
Não esqueçamos que com o triunfo eleitoral de Trump, Putin encarregou os seus diplomatas, incluindo Lavrov, de equilibrar os seus pronunciamentos para permanecerem a “meio caminho” entre Israel e a Resistência Árabe e Persa, o que inclui o Regime dos Aiatolás. Nesta direção estratégica a Rússia nunca se aliou militarmente a nenhuma organização guerrilheira árabe, mantendo uma suposta neutralidade diante da guerra da Palestina, no Líbano e mesmo na Síria.
O Kremlin chegou mesmo até a ceder sua própria influência política e militar na Síria, diante dos acenos trumpistas de “negociar” a Ucrânia, abandonando Assad e suas próprias bases aéreas e navais no país dos cedros. Sabe-se agora que, depois da Rússia não ter levantado um dedo para “salvar” Assad, nunca foram realmente fortes aliados. No movimento das massas árabes, especulou-se que a Rússia “se rendeu aos sionistas”, mas a verdade é bem mais profunda do que essa capitulação a Israel: Putin pretende restabelecer as plenas relações econômicas com o imperialismo, posto que de fato nunca foram rompidas integralmente.
Putin tomou a decisão de “rifar” Assad priorizando os interesses nacionais do Estado Burguês Russo, uma decisão obviamente divorciada de qualquer elemento de internacionalismo proletário! O que é ainda pior, está preparando sua própria derrota na próxima etapa da luta de classes, depositando ilusões que o trumpismo poderá estabelecer uma relativa “soberania gerencial” diante da máquina de guerra do Deep State ianque.
Como avaliamos no final do ano passado, o rápido colapso do governo sírio levanta questões importantes sobre o papel da Rússia neste cenário de franco retrocesso. Há quase uma década, a intervenção militar de Moscou em 2015 permitiu ao governo sírio manter a sua autoridade nacional, ao mesmo tempo em que enfrentava um avanço significativo dos “rebeldes” da OTAN. Os ataques aéreos e o apoio logístico russos ajudaram a recapturar territórios importantes.
No entanto, face à ofensiva “relâmpago” dos jihadistas sobre Damasco no final de 2024, e a ausência de uma intervenção russa decisiva sugere uma mudança na posição política de Moscou em relação ao seu aliado histórico, único país fora das antigas fronteiras da URSS, onde a Rússia possuía duas estratégicas bases militares, em contraposição às centenas de bases imperialistas instaladas pela OTAN no mundo inteiro.
Putin que optou por “lavar as mãos”, mesmo recebendo vários avisos de alerta de quadros dirigentes do seu próprio governo, também saiu desmoralizado da queda de Assad. O Kremlin deve ter calculado uma perigosa barganha com os EUA de Trump: “Entregamos a Síria e recebemos parte da Ucrânia”. O presidente russo Vladimir Putin afirmou anteriormente que a: “Rússia está disposta a normalizar relações com os Estados Unidos e outros países ocidentais”. Estas últimas declarações do chefe do Kremlin estão completamente “em linha” com a vergonhosa postura política de Putin ao abandonar a defesa do regime nacionalista de Assad e entregar a Síria na mão dos terroristas financiados pela tríplice aliança formada pelos EUA, Israel e Turquia.
Tudo indica que o Irã será o próximo alvo da sanha otanista, o Regime dos Aiatolás nesta altura já percebeu que não poderá confiar sua segurança nacional nas mãos do vacilante Putin…
Os Marxistas Leninistas conhecem muito bem a incapacidade histórica do nacionalismo burguês em levar até as últimas consequências a luta contra o imperialismo, porém em plena etapa de profunda crise de acumulação do capital, e que aponta objetivamente para um período já aberto de pré-III Guerra Mundial, os “vacilos e ilusões” da camarilha restauracionista de Putin diante do imperialismo ianque, podem custar a sobrevivência política do regime pós soviético.
Não temos dúvida alguma acerca da posição correta a ser assumida neste conflito, entre o imperialismo ianque e o regime nacionalista burguês do Irã: estamos incondicionalmente no campo militar da nação persa e dos países oprimidos, com absoluta independência política em relação ao Regime dos Aiatolás.
Os Trotskystas não conferem nenhuma legitimidade as ações militares ianques ou sionistas contra o regime nacionalista burguês do Irã, apesar das diferenças de classe e programa que temos com os Aiatolás. Sem dúvida se aproxima um confronto militar de grandes proporções na região, seja pela indução guerreirista do imperialismo ianque, ou pela própria crise interna do sionismo.
Os Leninistas não têm acordo programático algum com o regime dos aiatolás, e por consequência mantém toda a caracterização acerca do caráter de classe burguês do governo iraniano. Entretanto, como já afirmamos em inúmeras declarações, não somos neutros diante de um conflito entre o imperialismo ianque, e seu “cão de guarda” terrorista, e a nação persa.
Estamos neste caso incondicionalmente no campo militar do Irã contra os EUA e seus prepostos subalternos da OTAN no Oriente Médio. Defendemos intransigentemente o direito do governo iraniano possuir arsenal militar atômico, em defesa da nação oprimida contra os assassinos sionistas, armados com o que existe de mais avançado em termos de armas nucleares. Não somos neutros, ou mesmo nos abstemos de assumir uma posição clara no conflito entre a nação persa e a Casa Branca e seu enclave militar na região: sem depositar nenhuma confiança ou apoio político no regime dos aiatolás, estamos na trincheira do Irã, contra as provocações e ataques promovidos pelos carniceiros do imperialismo ianque, sejam os Republicanos com Trump ou genocidas Democratas.
Não nos omitiremos de estabelecer uma unidade de ação com o Regime dos Aiatolás, diante de uma agressão imperialista, alertando que este poderá capitular a qualquer momento. Por esta mesma razão, chamamos o proletariado persa a construir uma alternativa revolucionária dos trabalhadores que possa combater consequentemente o imperialismo e derrotar posteriormente todas as alas do regime, denunciando. É bom lembrar que os Marxistas já estabeleceram uma frente única com os aiatolás na derrubada do Xá Reza Pahlevi e seu regime pró-imperialista, apesar de conhecerem o caráter de classe da direção religiosa muçulmana.
Os Revolucionários defendem integralmente o direito do Irã a possuir todo arsenal militar atômico ao seu alcance para se defender do imperialismo e do sionismo. Porém, compreendem que a tarefa de defender o Irã inclusive contra sua burguesia nativa está, antes de tudo, nas mãos do proletariado mundial e das massas árabes. Somente elas podem lutar consequentemente pela derrota do imperialismo em todo o Oriente Médio, abrindo caminho para sepultar a exploração capitalista interna que condena a miséria os explorados da região!