As abrangentes tarifas alfandegárias impostas pela Casa Branca ao resto do mundo, tanto aos governos amigos quanto aos inimigos, foram amplamente caracterizadas pelo consorcio mundial da mídia corporativa como uma “loucura” econômica trumpista, mas de fato estão bem longe disso. O tarifaço foi implementado sob a bandeira do “Made in America”, que, de acordo com o informativo do Departamento de Estado ianque, não é um simples “slogan”, mas sim a “prioridade econômica e de segurança nacional deste governo”. Entretanto, não há nenhuma mercadoria relevante no planeta que possa ser considerada “Made in America”, ou somente de um único país. Cada bem econômico produzido atualmente, desde os itens de consumo mais simples do dia a dia até os automóveis e os desenvolvimentos mais avançados em tecnologia de computadores e inteligência artificial, são o resultado de um processo de produção global em um sistema econômico integrado em cadeia internacionalmente. Isso posto levanta uma questão central totalmente ignorada pelos midiotas e a esquerda reformista: A era do mercantilismo já foi superada há vários séculos atrás, o capitalismo impôs a divisão internacional do trabalho e a globalização financeira pariu a governança imperialista do capital. As fronteiras nacionais e os governos burgueses, mesmo a poderosa Casa Branca ou a Burocracia do “Partido Comunista“ chinês, são meros joguetes na mão do capital financeiro internacional. Não se pode decifrar a crise econômica mundial com “lentes teóricas” que só enxergam a dimensão do tarifaço trumpista como se o capitalismo estivesse em sua fase originária mercantil, e que o determinante na conjuntura internacional fossem as taxas do comércio entre os portos do planeta e não o fluxo do capital financeiro global que fazem dos Estados nacionais seus subjugados agentes econômicos.
Para descortinar com fatos e dados concretos o suposto “embate mortal” entre os EUA e a China (na verdade é a atual gerência da Casa Branca que teve a iniciativa do confronto e não o país na sua composição total de forças), por conta da “Guerra Comercial” desagrada por Trump, nada melhor do que analisar o próprio fluxo do capital financeiro entre os duas nações neste último mês. Especulações recentes de que China e Japão estariam se desfazendo de títulos do Tesouro dos EUA foram contestadas factualmente nesta 4ª feira (16/04) depois que um relatório do próprio Departamento do Tesouro dos EUA mostrou que as reservas estrangeiras de títulos da dívida pública norte-americana na verdade aumentaram 3,4% em fevereiro. Tanto a China quanto o Japão aumentaram suas reservas depositadas nos EUA neste mês! Todo o alarido da mídia corporativa( copiada pelos papagaios midiotas da esquerda reformista) em torno da “briga irreconciliável” entre Xi e Trump não passa de uma grande cortina de fumaça para camuflar um novo grande reset econômico impulsionado pela Governança Global.
Uma das características centrais do sistema econômico mundial no pós-guerra foi o reconhecimento de que os confrontos tarifários e cambiais da década de 1930, personificadas pela Lei Smoot-Hawley dos EUA de 1930, haviam aprofundado a “Grande Depressão“ e desempenhado um papel significativo na criação das condições para a Segunda Guerra Mundial. Considerando o desenvolvimento do atual sistema financeiro global, as medidas protecionistas de Trump são bem distintas daquelas de 95 anos atrás. O gerente de turno da Casa Branca não pretende paralisar as importações e exportações dos EUA, transformando o imperialismo ianque em uma autarquia nacional, e muito menos ainda provocar uma III Guerra Mundial, esse na verdade é o objetivo estratégico do Deep State, porém ao provocar uma crise internacional Trump quer calibrar o papel dos EUA como o “caixa central do Planeta Terra”, uma reserva financeira sem lastro local e totalmente “alheia” a burguesia industrial norte-americana, além de só ter trazido déficit para o Estado capitalista ianque.
Uma questão central para o “descontrole creditício” dos EUA, foi a significativa inflexão no desmantelamento do acordo monetário de Bretton Woods em 1971, quando o então presidente Republicano Richard Nixon retirou o lastro em ouro do dólar norte-americano. Os déficits crescentes da balança comercial e de pagamentos dos EUA significavam que Washington não podia mais honrar seu compromisso de resgatar dólares em troca de ouro à taxa de US$ 35 por onça. A partir desta guinada histórica, pouco comentada pelos “experts” econômicos da mídia corporativa, a “moviola” do Tesouro dos EUA estava “liberada” Para emitir moeda e títulos financeiros sem lastro algum, ou melhor dizendo no lastro das Forças Armadas do Pentágono.
Assim o dólar (transformado em uma moeda fiduciária) continuou a funcionar normalmente como a base das relações monetárias e comerciais internacionais. Entretanto acontece que nos últimos trinta anos com a transferência do capital financeiro globalizado para se reproduzir na Ásia, e não da mesma forma imperialista “clássica” como fez com o Japão e Coréia do Sul, o antigo Estado Operário chinês (agora restaurado o capitalismo) tornou-se o “coveiro” da velha burguesia industrial dos EUA. É exatamente essa luta que aparenta ser contra o “Dragão Chinês”, mas que na verdade em sua essência é uma batalha já perdida contra a Governança Global, que Trump se lançou desde o “salão oval” da Casa Branca.