LBI, NOSSAS DIFERENÇAS METODOLÓGICAS, POLÍTICAS-PROGRAMÁTICAS COM CAUSA OPERÁRIA E O PARTIDO OBRERO
Capítulo I
Há 5 anos da ruptura com Causa Operária: um breve balanço político
Passados exatamente 5 anos do surgimento da LBI, após a ruptura de um punhado de quadros que militaram por quase uma década inteira no interior da então Organização Quarta Internacional, atual Partido da Causa Operária (PCO), faz-se necessário estabelecer um breve balanço político. Tanto dos erros e acertos programáticos da LBI, sintetizados em sua intervenção política na luta de classes ao longo deste curto período histórico, assim como do curso seguido a frente pelo PCO, hoje uma organização completamente a margem da luta de classes, marcada por acusações de gangsterismo contra outras correntes políticas do movimento de massas e pelo oportunismo político, materializado em seu vergonhoso apoio à última candidatura presidencial da Frente Brasil Popular.
O EIXO PROGRAMÁTICO DE UMA CISÃO PRINCIPISTA
Vladimir I. Lenin nos ensinou que uma ruptura política só pode ser justificada, no interior de um partido revolucionário, quando este ultrapassa a fronteira de classe e passa a assumir posições políticas diretamente vinculadas a uma das frações da burguesia ou mesmo do imperialismo. Foi assim que, mesmo rompido organizativamente com o menchevismo desde 1903, Lenin e sua fração bolchevique do POSDR só vieram proclamar o nascimento de uma nova organização política, o Partido Bolchevique, em 1912, em razão da capitulação dos mencheviques, que assumiram abertamente o apoio à burguesia russa às vésperas da eclosão da I Guerra Mundial. Esta posição menchevique significou uma traição de classe, muito mais além do que um erro tático, representava a necessidade da completa ruptura entre as frações menchevique e bolchevique. Lenin não vacilou nenhum momento nesta tarefa e proclamou a formação do novo partido revolucionário.
O apoio integral dado por Causa Operária, seguindo a mesma linha do seu progenitor, o Partido Obrero da Argentina, à reunificação capitalista da Alemanha (anexação imperialista do Estado operário burocratizado da RDA), assim como a frente única que estabeleceram com Yeltsin no contragolpe que destruiu a União Soviética em 1991, significaram a passagem de CO para o outro lado do rubicão de classe, neste caso concreto, para o lado do imperialismo, que festejou a destruição dos Estados operários deformados, como o “fim da história”, desencadeando a maior ofensiva militar, econômica, política e ideológica contra os povos do planeta, no limiar deste final de século. Como polícia suprema do planeta, o imperialismo ianque hoje tem as mãos livres para invadir e bombardear países, recolonizar economicamente continentes inteiros, impondo seus planos de “ajuste”, que tanto causam fome, desemprego e miséria em nossa América Latina e na África, além de usurpar conquistas operárias históricas, inclusive no seio de países imperialistas.
A destruição contra-revolucionária dos Estados operários, e mais particularmente da URSS, não significou apenas a perda de conquistas sociais para o proletariado destes países, adquiridas a partir da revolução socialista de 1917 na Rússia, como o pleno emprego; saúde, educação e habitação gratuitas garantidas constitucionalmente; monopólio do comércio exterior etc., mas também para o proletariado mundial representou o aumento brutal dos ritmos de produção, privatizações, aumento do desemprego etc. Foi a conseqüência direta da hegemonia absoluta assumida pelo imperialismo no cenário mundial. Apesar de toda a degeneração burocrática, promovida pelo stalinismo a frente dos Estados operários, estes representavam um contraponto à dominação imperialista e seus planos de expansão militar e econômica sobre todo o planeta. Foi assim que a humilhante derrota militar do imperialismo, há 25 anos no Vietnã, diante do stalinismo a frente das massas vietnamitas, representou uma imensa vitória do proletariado mundial. A unificação operária do Vietnã do Norte (Estado operário deformado) com o Vietnã do Sul (capitalista), após a guerra, mesmo sob a condução do stalinismo, Partido Comunista Vietnamita, era um tremendo avanço e estímulo político para a luta das massas em todo o mundo. Já a anexação imperialista da Alemanha Oriental, apesar desta ser controlada pelo stalinismo, trouxe consigo desemprego para o proletariado alemão oriental, perda de suas conquistas históricas, maior presença militar ianque na região etc., em resumo: uma derrota histórica do proletariado mundial.
O muro de Berlim significava militarmente a divisão entre as tropas imperialistas da OTAN, que hoje bombardeiam impunemente os povos do Leste europeu, e as tropas do Pacto de Varsóvia, representante militar dos Estados operários burocráticos. Simbolicamente, era expressão da fronteira de dois modos antagônicos de produção existentes até então. De um lado, o “livre” comércio, o mercado “soberano”, a exploração da força de trabalho, o desemprego, a fome e a prostituição; do outro, o pleno emprego, o monopólio do comércio exterior, o direito à saúde e educação estatizadas, em síntese, a socialização da economia, apesar do planejamento autoritário imposto pela burocracia stalinista. Como nos ensinou Trotsky, os revolucionários não poderiam hesitar, sob hipótese alguma, de que lado lutariam no confronto entre o imperialismo e o Estado operário soviético. Apesar do stalinismo, uma corrente contra-revolucionária até a medula, estariam na linha de frente defendendo as conquistas sociais do Estado operário contra o imperialismo e, neste lado da trincheira, preparando as condições para a derrubada revolucionária da casta stalinista que, com seus métodos burocráticos de defesa do Estado operário não, faria outra coisa, senão preparar em última instância a própria vitória do imperialismo. Como afirmou o velho bolchevique: “Esta perspectiva torna bastante concreta a questão da defesa da URSS. Se amanhã, o grupo burguês fascista ou, por assim dizer, a ‘Fração Butenko’ entrar na luta para a conquista do poder, a ‘Fração Reiss’ tomará, inevitavelmente, o seu lugar no lado oposto da barricada. Encontrando-se momentaneamente aliada a Stalin, defenderá, é claro, não a camarilha bonapartista deste, mas as bases sociais da URSS, isto é, a propriedade arrancada dos capitalistas e estatizada. Se a ‘fração Butenko’ está aliada a Hitler, a ‘Fração Reiss’ defenderá a URSS contra a intervenção militar, tanto no interior da URSS, como na arena mundial. Qualquer outra conduta seria uma traição” (Programa de Transição, Leon Trotsky).
Assim como os mencheviques e a social-democracia européia, que deram o seu apoio à burguesia nacional durante a I Grande Guerra imperialista de rapina, Causa Operária e uma ampla franja dos revisionistas do trotskismo (morenistas, lambertistas etc.) cometeram uma traição histórica ao perfilar-se ao lado da “Fração Butenko”, ou seja, Yeltsin e seus asseclas, para liquidar as bases sociais do Estado operário soviético. Hoje, os efeitos da restauração capitalista na ex-URSS e em todo o Leste europeu são catastróficos para todos os povos do mundo e, em particular, para os da antiga pátria soviética.
A Rússia teve sua economia arrasada (anteriormente, a segunda economia mundial), transformando-se em mais uma colônia empobrecida do imperialismo. A fome, o desemprego, a prostituição infantil, o genocídio dos velhos que perderam até suas aposentadorias são efeitos da restauração contra-revolucionária do capitalismo, ou seja, da vitória do “livre mercado” e da “democracia”! A fração burguesa dominante (Yeltsin, Putin, Chernomyrdin, Chubais etc.), parida das próprias entranhas da burocracia stalinista, nas palavras de Trotsky, a “Fração Butenko”, comanda a acumulação primitiva de capital, através da rapinagem mafiosa das antigas empresas estatais, assim como pela opressão militar fascista dos antigos povos soviéticos, como a Chechênia e o Daguestão. Mas a restauração capitalista, para Causa Operária, não passa de uma “revolução antiburocrática das massas”, o importante mesmo era liquidar o stalinismo, sendo apenas um “detalhe” de menor importância se, junto com o stalinismo, caísse também o Estado operário, afinal, a classe operária teria mais “liberdade” para lutar, sobre os escombros do Estado operário, pelo verdadeiro socialismo. O “jornalista” Rui Pimenta, editor do Jornal Causa Operária, em um acesso de insanidade e arrogância estúpida, chega mesmo a ironizar a defesa que o próprio Trotsky faz da URSS. Vejam o que este bastardo escreveu sobre a LBI (os grifos e os sic são do próprio Rui Pimenta): “Segundo os farsantes, contudo, esta seria a posição do próprio Trotsky: ‘Como Trotski nos ensinou ‘Stalin derrotado pelos trabalhadores será um passo adiante para o socialismo, Stalin aplastado (sic, os sábios quizeram dizer ‘esmagado’) pelos imperialistas significa a contra-revolução (sic) triunfante. Este é o sentido preciso da nossa defesa da União Soviética em escala Mundial.’ (‘Uma vez mais a URSS e sua defesa’, L. Trotsky). Já na época dos padres da Igreja e do escolasticismo foi verificado este grave problema com citações, ou seja, que tomadas abstratamente dão lugar a todo o tipo de sandices. Então Trotski era a favor de que os trabalhadores, e não o imperialismo, derrubassem Stalin: extraordinário!… (sic) O único problema é que as coisas não ocorreram desta forma.
O muro de Berlim não foi derrubado pelas tropas norte-americanas estacionadas em Berlim Ocidental, mas por um levante popular que sacudiu toda a Alemanha Oriental…
Mas os impostores não conseguiram distinguir a revolução política no panorama do Leste europeu…” (“Um grupo de impostores políticos”, Rui C. Pimenta, CO pp.58-59).
Vejam que, como diz o ditado popular, “Pimenta nos olhos dos outros é colírio”. Agüentar as asneiras do Sr. Pimenta não é fácil, mas vamos à demolição teórica e política destes revisionistas, quinta-colunas do imperialismo no movimento operário. Trotsky elaborou o “Programa de Transição” e posteriormente “Em defesa do marxismo” à época em que a URSS sofria a ameaça real da invasão militar nazista, o que acabou por configurar-se pouco depois. Mas apesar da ameaça militar externa, Trotsky nunca abordava a questão da “defesa da URSS” exclusivamente sobre esta ótica. Se o “jornalista” Pimenta se dispusesse a pelo menos ler com atenção o Programa de Transição, poderia observar que Trotsky alerta sobre o perigo da “‘Fração Butenko’ entrar em luta pela conquista do poder”. A “Fração Butenko” nada mais é do que um setor da própria burocracia stalinista, em contato direto com o imperialismo, que acaba por romper com seu próprio núcleo original, o stalinismo, para alçar-se como fração burguesa dominante, mediante a destruição contra-revolucionária das bases sociais do Estado operário, ou seja, a socialização dos meios de produção. Como assinalou Trotsky em seu livro “A Revolução Traída”, não poucos funcionários do aparelho stalinista serão recrutados pela fração burocrática restauracionista na empreitada pela destruição do Estado operário soviético e a sua conversão em um estado capitalista. Para o Partido Obrero, guia teórico de CO, o contragolpe de Yeltsin, que não conseguiu reunir mais de 10 mil funcionários medianos, deslumbrados com a perestroika, na Praça Vermelha – significou um verdadeiro levante revolucionário de massas: “As massas abriram caminho da revolução política e agora abertamente social” (En Defensa del Marxismo, nº 1, outubro de 1991). E como não houve o “cenário clássico” de uma intervenção militar imperialista, que segundo estes revisionistas seria a única possibilidade de defenderem a URSS, acabaram por apoiar entusiasticamente o bando restauracionista de Yeltsin, justificando-se com o argumento de que estariam seguindo as “massas”, pouco se importando sob que direção política se orientavam, ou mesmo por qual setor social eram guiadas. Nas próprias palavras do Sr. Pimenta: “…para construir um partido revolucionário no Leste europeu (em Cuba, na China etc.) seria, e é, necessário impulsionar o movimento antiburocrático das massas e disputar no seu interior a sua direção com todas as forças direitistas e reacionárias que apresentassem suas candidaturas à direção deste movimento…” (“Um grupo de impostores políticos”, pág. 60, CO). Para Causa Operária, os trotskistas teriam que estabelecer uma frente única (movimento antiburocrático) com os “gusanos” e a própria “CIA” norte-americana em Cuba, por exemplo, caso contrário, estaríamos agindo “…como alguém que tivesse sofrido lobotomia, apoiando a ditadura da burocracia contra as massas” (idem, pág. 60). Segundo Causa Operária e o Sr. Pimenta, o próprio Trotsky seria um destes “lobotomizados” quando defendia, no “Programa de Transição”, exatamente o contrário: “Assim, não é possível negar antecipadamente a possibilidade, em casos estritamente determinados, de uma frente única com a parte termidoriana da burocracia contra a ofensiva da contra-revolução capitalista.” (“Programa de Transição”).
A lógica de todas as tendências pseudo-trotskistas ou não, que defenderam e defendem hoje em Cuba, por exemplo, uma aliança com setores “reacionários” e “direitistas” (gusanos) para impulsionar o “movimento antiburocrático” baseia-se em dois eixos “teóricos”, completamente antimarxistas. O primeiro destes eixos é que desconhecem a diferença fundamental de classe entre um Estado operário e um Estado capitalista. Neste último, está absolutamente correto “acompanhar” (com total independência política) a mobilização das massas contra o poder estatal, independentemente do caráter político da direção deste movimento, seja uma direção nacionalista burguesa, social-democrata, ou até mesmo populista de direita. Os revolucionários têm a obrigação de disputar politicamente a direção das massas com todas as variantes contra-revolucionárias, através da delimitação política implacável e incentivando os próprios métodos da classe operária contra o Estado burguês: ação direta, greves, comitês de autodefesa etc. Já um Estado operário, mesmo que degenerado sob a direção da casta parasitária stalinista, engendra conquistas sociais para o proletariado, advindas da expropriação da burguesia e da instauração de uma economia socializada, ou seja, planificada não em função da geração do lucro e da acumulação privada do capital. Trotsky, nestes países, apontava a necessidade da realização de uma revolução política para livrar a classe operária da planificação burocrática da economia, assim como do domínio político do stalinismo, uma correia de transmissão do imperialismo no interior do próprio Estado operário. Por isto mesmo, Trotsky procurava estabelecer o conteúdo de classe das “movimentações antiburocráticas”, para determinar se eram progressivas, ou seja, rumo à revolução política, ou reacionárias, em direção à restauração capitalista, mesmo que inconscientemente. Ele próprio a frente do Exército Vermelho teve que reprimir um levante dos operários marinheiros de Kronstadt, que naquele momento, apesar dos reclamos “antiburocráticos”, jogavam objetivamente no campo do enfraquecimento do Estado operário soviético. Apoiar incondicionalmente qualquer mobilização, levante, ou panacéias que tenham slogans “antiburocráticos” contra a existência das bases sociais de um Estado operário significa jogar objetivamente no campo da contra-revolução imperialista. Ao vestirem a camisa do time “antiburocrático” de Yeltsin e CIA, os Altamira, Pimenta, Lambert, Moreno, Lora etc. foram cúmplices, e co-responsáveis políticos na arena mundial, pela tragédia social (restauração capitalista mafiosa) que ocorre hoje nos antigos Estados operários do Leste europeu. Não é à toa que os operários de vanguarda da URSS e da Alemanha Oriental, hoje mobilizam-se justamente pelo retorno de suas antigas conquistas, sob o lema de “Voltar à URSS”.
A conquista das chamadas “liberdades democráticas”, que facilitariam a luta pela “revolução” no interior dos Estados operários burocráticos, é o segundo “eixo teórico” erguido pelos revisionistas do trotskismo, como CO. Segundo esta lógica, a genial categoria teórica construída por Trotsky da “revolução política” é apenas uma abstração, sem nenhuma utilidade prática, ou seja, esta consígnia nunca estaria colocada concretamente porque se “lutamos ao lado de forças reacionárias e direitistas contra a burocracia”, evidentemente, esta luta só poderá desembocar no surgimento não de Estados operários sãos, mas sim de regimes burgueses “democráticos” (direito à propriedade privada, liberdade de mercado etc.). Neste caso, então, estaria colocada a luta pela revolução social, como de fato, assim ocorreu em todo o Leste europeu. O problema deste engôdo “teórico” é que a luta operária conspirativa pela revolução política é absolutamente incompatível com o estabelecimento de “frentes únicas entre revolucionários, direitistas e reacionários” pelo simples e óbvio motivo que a luta pela revolução política pressupõe a manutenção das bases sociais do Estado operário, exatamente o que mais objetivam destruir todos os setores reacionários restauracionistas “antiburocráticos”. Trotsky é bem preciso nesta questão: “Só o partido da IV Internacional é capaz de conduzir as massas soviéticas à insurreição” (Programa de Transição).
Nossos detratores, logicamente, esgrimam seu último argumento: não haviam partidos revolucionários e trotskistas nos Estados operários e as “massas” estavam desencadeando mobilizações “antiburocráticas”, então, nada mais justo do que “acompanhar” (seguidismo) estas mobilizações para disputar sua direção política, mesmo que isto significasse a destruição das bases sociais dos Estados operários e o abandono completo da luta pela revolução política. Na boca do próprio Sr. Pimenta, quando tenta ridicularizar a LBI, revela toda a essência de sua política descaradamente restauracionista na antiga Alemanha Oriental: “Certos processos mentais, no entanto, são irreversíveis e, neste sentido, temos que ouvir que ‘nenhuma unificação (da Alemanha) conduzida pelos capitalistas poderia ser apoiada pelos revolucionários. E nestes dias não havia partidos revolucionários, somente partidos capitalistas’ [citando a LBI, nota do editor]. Porque não havia partidos revolucionários, não podíamos defender a unificação da Alemanha.” (!) (“Um grupo de impostores políticos”, pp. 60-61, CO). Brilhante sinceridade destes stalinofóbicos. Não concebem a construção de partidos revolucionários no interior dos Estados operários, exatamente na luta política contra os stalinistas que sufocam as conquistas operárias, assim como em oposição de classe aberta aos restauracionistas de todas os matizes. Como na RDA não havia um partido revolucionário, nada melhor que encontrar um atalho e emblocar-se diretamente com os que defendiam a unificação (anexação) capitalista da Alemanha Oriental, um Estado operário apesar de suas deformações, pela Alemanha Ocidental, uma potência imperialista. O importante mesmo, para os democratas pequeno-burgueses, era a “unificação” a “qualquer preço” (Viva a democracia!) independente do caráter de classe que esta poderia assumir.
Os revisionistas de CO também nos dão uma bela demonstração de sua fidelidade aos “ensinamentos” pablistas, quando se trata da questão da defesa incondicional dos Estados operários. O axioma formal posto é o seguinte: defenderam a unificação capitalista na Alemanha porque não havia um partido revolucionário para lutar pela revolução política, assim como não poderia haver revolução política porque não existia um partido trotskista na Alemanha Oriental. Seguindo esta lógica antimarxista, abriram mão da árdua tarefa da construção do partido revolucionário, para ingressarem em uma frente única “antiburocrática” com setores “reacionários” e “direitistas”, para liquidarem o stalinismo e o Estado operário de uma mesma tacada. O atual pablismo às avessas destes revisionistas (Michel Pablo renunciou a construção de partidos revolucionários em todo o mundo, alegando um suposto caráter progressivo dos partidos comunistas) é ainda mais contra-revolucionário do que o seu antecessor, dotou os agentes da restauração capitalista, como Yeltsin, de um caráter “progressista” e “antiburocrático”, e o que é mais criminoso, abdicaram da imperiosa necessidade de construir partidos trotskistas, em nome de “acompanhar” acriticamente o “movimento das massas” dirigidas por “reacionários” a serviço do imperialismo.
Uma política justa e revolucionária para aqueles decisivos dias por que passou a RDA no final de 1989, passava essencialmente por desmascarar a mitificação que envolvia parte considerável da população do “paraíso capitalista alemão ocidental”. Um partido revolucionário deveria engatinhar sua formação no paciente trabalho de propaganda entre a classe operária, que permaneceu inerte e confusa, diante das mobilizações populares que exigiam a queda do Muro e a unificação a qualquer custo das duas Alemanhas, desmistificando politicamente a noção de que os partidos imperialistas da Alemanha capitalista poderiam garantir melhores condições de vida para o proletariado oriental, do que a que já tinham conquistado, apesar da opressão política stalinista. Os autênticos trotskistas deveriam estar na linha de frente da vigorosa denúncia do controle burocrático da economia e da vida social do país, que exercia a casta parasitária de Honnecker, mas alertando aos operários que a unificação com o vizinho imperialista significaria um tipo ainda pior de opressão, a opressão e exploração imperialista.
A luta pela defesa das conquistas operárias e, portanto, a manutenção das bases sociais do Estado operário, de forma nenhuma é contraditória com a defesa da liquidação revolucionária da burocracia stalinista (revolução política). Abdicar desta batalha, em nome do etapismo contra-revolucionário dos revisionistas, ou seja, primeiro as “liberdades democráticas”, para depois lutar pela revolução socialista, já no marco da restauração capitalista, é sinônimo da pior traição de classe, que qualquer corrente que se reivindica revolucionária e trotskista pode cometer. O Partido Obrero, Causa Operária e seus “parentes” revisionistas estiveram na linha de frente desta traição histórica ao proletariado mundial.
CAUSA OPERÁRIA SE AUTOCONDENA A SEGUIR PERMANENTEMENTE APOIANDO A CANDIDATURA PRESIDENCIAL DE LULA (PT)
O fato político nacional que desencadeou nossa ruptura orgânica com Causa Operária foi, sem sombra de dúvidas, a decisão do Sr. Pimenta em reeditar mecanicamente o apoio político dado a Lula por CO em 1989, nas eleições presidenciais de 1994. Apoio eleitoral também repetido nas últimas eleições de 1998, onde Lula teve como seu vice, na chapa presidencial, Leonel Brizola (PDT), velho caudilho latifundiário e ex-governador do Rio de Janeiro, que hipotecou solidariedade incondicional ao presidente, posteriormente cassado, Collor de Melo.
Em um documento interno à CO, datado de agosto de 1994, militantes, que um ano depois formariam a LBI, alertavam para o perigo político da repetição mecânica do apoio eleitoral dado a Lula em 89, em uma conjuntura social inteiramente diversa, e o que é mais grave, com uma inflexão política completamente à direita operada pelo PT que, entre outras “pérolas” de sua campanha, defendia a continuidade do plano pró-imperialista de entrega nacional, batizado de “Real”, e o pagamento integral da dívida externa, inclusive o respeito pleno às privatizações e a todos os acordos com o FMI e o capital financeiro, celebrados pelo governo Itamar Franco. Naquele momento, agosto de 1994, afirmávamos o seguinte: “Se na campanha de 89 a campanha do PT representava, ainda que limitadamente, um fenômeno progressivo de organização política própria dos explorados e sua dinâmica abria a perspectiva de ruptura com o regime da Nova República, em 94, a campanha se apresenta com uma perspectiva completamente oposta, representa a integração da direção do movimento operário à política do imperialismo. Hoje, a orientação dada pelo PT é dar continuidade aos planos de exploração dos trabalhadores sob um novo eixo político: um governo de coalizão dos representantes da oligarquia financeira com a burocracia sindical pró-imperialista…
A campanha apresentada pelo PT, em 94, está calcada sobre um alto grau de integração à burguesia, não constituindo nenhum canal onde o proletariado possa agir e se expressar de forma independente – todas as colocações da candidatura Lula que porventura pudessem despertar qualquer expectativa de ação dos trabalhadores foram descartadas completamente (a proposta de salário-mínimo do PT está abaixo da apresentada por Quércia, a posição da candidatura burguesa de Brizola sobre as privatizações é mais categórica que a de Lula, etc.), inexistindo um corte de classe que a diferencie das candidaturas patronais, sendo mais uma dentre as variantes burguesas postas no quadro institucional.” (“Pelo rompimento com a candidatura Lula”, documento elaborado em agosto de 1994 por militantes de CO que posteriormente fundariam a LBI).
Para Causa Operária e seu mentecapto “jornalista” Pimenta, o fato de pontuarmos as nítidas diferenças da conjuntura política e da campanha eleitoral do PT entre 89 e 94, advogando o voto nulo nestas últimas, mesmo que reivindicando como correto o apoio crítico dado a Lula em 89, seria a demonstração de nossa “desilusão com o PT”: “Pode alguém duvidar que estamos diante de um grupo [LBI, nota do editor] de lulistas arrependidos e desiludidos com o líder?” (“Um grupo de impostores políticos”, CO, pág. 47). A essência desta “crítica” (se assim pudermos qualificar as inúmeras falsificações que CO fez de nosso documento e posições políticas) consiste na seguinte estupidez política: se prestamos apoio eleitoral crítico a uma candidatura do PT que encabeça uma frente popular num determinado período histórico, estamos obrigados a repetir mecanicamente este apoio nas eleições seguintes, sob pena de sermos acusados de estarmos “iludidos” (“lulistas arrependidos”) quando esta se apresentou pela primeira vez, neste caso concreto, em 89. Avançando no rumo das grotescas falsificações das posições defendidas pela LBI, o Sr. Pimenta tenta traficar a noção de que teríamos afirmado o seguinte: “…a frente-popular de 1989 era progressista, vale dizer revolucionária.” (idem, pág. 35). Prosseguindo nesta direção das calúnias contra a LBI, Pimenta conclui: “Para os nossos amigos impostores, o Partido dos Trabalhadores foi outrora um partido conseqüentemente democrático, ou seja, democrático de uma maneira revolucionária…” (idem, pág. 31). Salta aos olhos, logo de uma primeira vista, a promiscuidade do Sr. Pimenta, ao colocar um sinal de igualdade entre termos políticos tão distintos em seu conteúdo. Será que “progressista” significa o mesmo que “revolucionário”, ou então “democrático” é sinônimo de “revolucionário”? Será mesmo que este “jornalista”, que escreve com um dicionário de bolso para se mostrar erudito diante de seus ignorantes seguidores, conhece o ABC do marxismo, ou trata-se de um caso claro de falsificação stalinista para macular uma corrente política adversária?
A verdade é que nunca atribuímos nenhum caráter “revolucionário”, nem mesmo “conseqüentemente democrático” ao PT e tampouco à frente popular, seja em 82, 86, 88 ou 89. Em nosso documento defendendo o voto nulo em 94, caracterizamos de forma bastante enfática o caráter político da frente popular formada pelo PT em 89: “As expectativas das massas em defesa de suas reivindicações mais sentidas e as que nutrem em relação a um governo dos trabalhadores, se chocam com a conciliação de classes, imposta pela Frente Brasil Popular (FBP).
O programa da FBP, os 13 pontos, era o cartão de identificação das contradições contidas no movimento. Continham a tentativa de estabelecer um programa de governo “intermediário” entre as reivindicações vitais dos trabalhadores e das massas exploradas e um outro programa democratizante que colocava a inviolabilidade da propriedade privada” (Documento “Pelo rompimento com a candidatura Lula”).
Quem realmente seriam os “lulistas arrependidos” e os “impostores” do trotskismo, nós da LBI; que apesar de inúmeros erros de prognóstico e políticos, contidos em nossa elaboração inicial de 94, tivemos a coragem política de denunciar a vergonhosa direitização política do PT; ou os revisionistas de CO, que seguem amarrados ao apoio à frente popular encabeçada por Lula até hoje?! O que realmente não pode revelar o Sr. Pimenta aos seus leitores é que foi a sua organização a única corrente “trotskista” no interior do PT a defender que este adotasse o “centralismo democrático” em suas instâncias deliberativas, núcleos, plenárias, encontros etc. Quem realmente tinha ilusões em um “PT revolucionário”, os militantes da LBI, que consideravam o caráter político da Frente Brasil Popular em 89 como defensor da “inviolabilidade da propriedade privada” e de “conciliação de classes”, ou os farsantes de CO, que defendiam que o PT adotasse o “centralismo democrático” como regime leninista de partido (eles deviam achar que o PT era um partido operário revolucionário ou estamos diante de um caso típico de masoquismo político, ou seja, CO defendia ser centralizada pela política contra-revolucionária da burocracia lulista), além de sua subserviência covarde a Lula em 89: “…por isso, apresentamos um programa de luta sem estabelecer a condição de romper com Lula [!], assim, chamamos a votar nele…” (“Um grupo de impostores políticos”, pág. 44, Rui Pimenta).
Também é absolutamente falsa e mentirosa a versão de que CO foi inicialmente contra a formação da Frente Brasil Popular: “Nós fomos os únicos que apontamos desde o primeiro momento que a frente com partidos pequeno-burgueses como o PV e o PCdoB era uma frente popular…” (idem, pág. 43). Verifiquemos o que realmente escrevia o Sr. Pimenta nas páginas do jornal Causa Operária em 89: “Da mesma forma que nas eleições municipais – e com maior intensidade – o PT tende a expressar, no terreno das eleições presidenciais, as tendências combativas e classistas das massas.
A candidatura Lula tende a tornar-se, portanto, a expressão objetiva dos multitudinários movimentos de luta dos últimos anos, colocando-os no centro da cena política, na disputa pelo governo federal, dando-lhes um caráter nacional e unitário e colocando-os direta e explicitamente em relação ao poder do estado.” (Jornal Causa Operária, pág. 6, nº 83). Será que se trata de um caso esquizofrênico de dupla personalidade política do Sr. Rui Pimenta? Em 89, escreve bajulando a candidatura Lula, omitindo qualquer referência à frente popular, em 96, para caluniar violentamente a LBI, vocifera: “Causa Operária não reconheceu em Lula nenhuma característica progressista, revolucionária ou excepcional para que tivesse que apoiar a sua candidatura” (“Um grupo de impostores políticos”, pág. 43, CO). Vejamos novamente o Sr. Pimenta, em 89, acometido de um lulismo esfuziante. No Causa Operária nº 87, escrevia o seguinte sobre o PT: “Ele é uma expressão deformada de um movimento que tende objetivamente à independência de classe, ou dito de outra forma, estamos diante de um movimento que evolui tendencialmente para posições de independência em relação à burguesia e às instituições de seu regime; portanto, para posições revolucionárias.” (JCO, nº 87, pág. 11, março de 1989). Trata-se de um caso evidente de vigarice política por parte de Causa Operária: para atacar a LBI, “defende” uma política ortodoxa, mas para agachar-se diante de Lula, veicula outra política, ultra-oportunista nas páginas de seu jornal, caracterizando que o PT caminhava “para posições revolucionárias”, precisamente quando estava se gestando a frente popular.
Nossa política, retrospectivamente defendida em 94, para a campanha presidencial de 89, baseava-se na tendência à independência de classe do movimento operário que, por ausência de um partido revolucionário de massas, acabou por materializar-se deformadamente no PT, um partido pequeno-burguês centrista. Jamais afirmamos o absurdo que este tinha sido um partido operário independente ou mesmo revolucionário, apenas não somos sectários e imbecis o suficiente para igualar, por exemplo, a campanha política do PT em 82, que marcava uma referência classista limitada entre os trabalhadores, com slogans políticos do tipo “trabalhador vota em trabalhador”, e as campanhas eleitorais de 94 e 98, onde colocou-se como um partido policlassista, em defesa da cidadania e da ética na política. A constituição da Frente Brasil Popular, em 89, teve a função de sufocar e sepultar os traços políticos timidamente classistas do PT, disciplinando a candidatura Lula no marco da estabilidade e salvaguarda do regime burguês. Neste sentido, em 89, apoiamos criticamente a candidatura presidencial de Lula, porque, além de agrupar a vanguarda mais combativa e consciente do movimento operário e popular, representava uma referência política de luta e de classe para a população trabalhadora. Não demos nenhum apoio à frente popular e seus partidos burgueses, ao contrário, denunciamos implacavelmente seu papel de sufocar as tênues referências classistas que ainda restavam no PT.
Na contramão de uma política principista, Causa Operária começou por levantar em 89, que o PT se constituiu numa “frente única operária” com o PCdoB e o antigo Partidão, PCB, atual PPS, ambos velhos paladinos da colaboração de classes. Depois de levar um “puxão de orelhas” de Jorge Altamira, dirigente máximo do PO argentino, que “alertou” acerca do caráter frente-populista, em que consistia as alianças eleitorais do PT (PCdoB, PV, PSB), Causa Operária passou a criticar a formação da FBP, exigindo a renúncia do burguês Bisol (PSB) da chapa presidencial encabeçada por Lula.
Para o pernóstico “crítico” Rui Pimenta, a LBI teria “espichado ad absurdum” (nosso “algoz” não tem senso do seu próprio ridículo) a teoria de que: “…o PT teria nascido como um partido operário independente, mas teria sido desnaturado no meio da corrida.” (“Um grupo de impostores políticos”, pág. 31, CO). Mais uma falsificação deslavada contra a LBI. Afirmar o caráter progressivo de um movimento político que deu origem ao PT, calcado no próprio ascenso do movimento operário em 78 e 79, nada tem a ver com a conclusão de que o PT teria nascido “operário e independente”. O PT, em sua gênese, constitui-se como um partido pequeno-burguês por suas colocações programáticas democratizantes e o caráter social de classe (pequeno-burguês) da maioria de sua direção política. Nas palavras do próprio Rui Pimenta, ao queixar-se das organizações pseudo-marxistas, que negavam o caráter progressivo original do PT: “Os CGB’s(*) encontram-se neste momento diante da encruzilhada que derrotou as organizações centristas que procuravam se opor ao PT: a maioria combateu o PT porque o considerava absolutamente reacionário (O Trabalho, Convergência Socialista, PRC etc.) procurando com isso uma delimitação puramente faccional, para acabar se prostando completamente frente ao PT diante do fracasso deste combate.” (Jornal Causa Operária, pág. 11, nº 87). Por ironia da história, quem acabou se juntando a este time de “prostrados” (OT, CS – hoje PSTU) diante do PT foi a própria Causa Operária que vem desde 89 apoiando sistematicamente as candidaturas de Lula à presidência e sua frente popular, agora, bem mais ampla e ligada diretamente aos interesses do capital financeiro internacional. Ao negar o caráter “progressivo”, mesmo que deformadamente, dos primeiros anos do PT, em polêmica com a LBI em 1996, para parecer bem “principista”, CO joga na lata do lixo o que ela mesma escreveu contra esta tolice defendida por OT, CS e PRC há décadas atrás. Porém, o mais importante é que sua atual prática de fiel seguidista das candidaturas presidenciais de Lula desmancha como pó inteiramente esta suposta faceta “esquerdista” e “antilulista” de Causa Operária.
Como um fenômeno político contraditório que encerrava a contradição entre as tendências classistas do movimento operário no final dos anos 70 e uma direção composta por correntes políticas reformistas e a burocracia sindical de “esquerda”, além de setores da igreja católica, a constituição do PT em 1980 inicialmente representou este “compromisso” que tendia a se resolver pela via “negativa” no curso histórico, ou seja, a perda completa das tendências à independência de classe e sua integração total ao Estado burguês.
O motor que balizou a integração do PT ao Estado capitalista foi a própria evolução da luta de classes na arena mundial. Como não padecemos de nenhum desvio “nacional trotskista”, como nossos insultantes “debatedores” de Causa Operária, procuramos explicar o desenvolvimento político do PT, buscando suas raízes na própria etapa histórica e sua correlação de forças entre a ofensiva do imperialismo e o recuo ideológico do proletariado mundial, por mais “distante” que isso pareça aos chauvinistas de plantão. A destruição contra-revolucionária dos Estados operários burocratizados do Leste europeu e da ex-URSS provocou uma mudança no caráter social e político do stalinismo mundial. Mesmo continuando a existir como força política, alterou seu caráter de casta parasitária, que se alimentava dos privilégios nos marcos de uma economia socializada e planificada burocraticamente. No plano internacional, deixou de ser a agência nacional, em cada país que existia, da burocracia stalinista soviética. Em resumo, perdeu seu “caráter dual”, utilizando a categoria política criada por Trotsky para definir as contradições que marcam o caráter do stalinismo, passou a existir exclusivamente em função de sua política de apoio político à burguesia nacional e, na atualidade, ao próprio imperialismo. Este novo elemento da luta de classes mundial favoreceu enormemente o bando imperialista, pressionando o conjunto dos partidos pequeno-burgueses, reformistas, inclusive as organizações guerrilheiras, que detinham influência de massas, a seguir o mesmo caminho do “neo” stalinismo, agora depurado de sua “face” operária reformista (burocracia operária) para converter-se em uma corrente abertamente burguesa. Partidos reformistas, como o CNA sul-africano, e o euro-“comunista” PC italiano, agora “Della Sinistra”, a FNL argelina etc. passaram a ser não mais a “última alternativa” para o imperialismo, mas sua “opção preferencial” para gerir a crise do Estado burguês, em razão do prestígio político que possuem junto à classe operária de seus respectivos países.
Precisaria ser completamente cego, ou um demente político, para não ver as crassas diferenças entre a política do imperialismo para o governo de frente popular, encabeçado pelo Partido Socialista de Allende no Chile em 73, e o atual governo do mesmo PS, dirigido por Ricardo Lagos. Ambos são governos de frente popular, de colaboração de classes, portanto, inimigos da luta revolucionária da classe operária pela conquista de seu verdadeiro poder estatal. Mas no primeiro caso histórico, o imperialismo ianque preparou a sua derrubada violenta, através da sabotagem econômica e da conspiração militar comandada diretamente pela CIA, cogitando inclusive uma intervenção armada de suas tropas em território chileno. O imperialismo utilizou Allende, “como um último recurso político do imperialismo na luta contra a revolução proletária” (“Programa de Transição, Leon Trotsky), exatamente porque estava calcado em uma situação explosiva, isto é, revolucionária na luta de classes. Não poderia admitir uma convivência “pacífica” prolongada entre a frente popular chilena de Allende e os interesses de suas transnacionais por muito tempo, por mais concessões que este fizesse ao imperialismo. Hoje ocorre o oposto, o imperialismo “elege”, como prioridade a passagem ao controle do Estado, precisamente os partidos reformistas de massas, sejam sociais-democratas, ex-stalinistas, ex-guerrilheiros etc., difundidos pela mídia burguesa como a “Terceira Via”. É assim que hoje, no Chile, Clinton se empenhou na eleição de Lagos para estar a frente da transição pactuada do regime militar. A CIA norte-americana “conspira” atualmente a favor do PS chileno, utilizando a desmoralização do chacal Pinochet como “boi de piranha” para que o PS possa descarregar sobre as massas chilenas o peso do “ajuste” imposto pelo FMI.
Isto também ocorre na África do Sul, onde o imperialismo ianque e europeu apoiou abertamente a antiga organização guerrilheira negra, o CNA, para operar politicamente a saída de cena, pacífica e ordenada, do velho regime racista do apartheid, dirigido pelos nazistas, Peter Botha e De Klerk, colocando em seu lugar o “neo-apartheid” social, agora sob o comando de Mandela e Thabo Mbeki, que converteram o governo do CNA em base de apoio do imperialismo no continente africano para facilitar seus planos de recolonização econômica sobre a região. No antigo Zaire, hoje, República Democrática do Congo, o imperialismo foi mais longe ainda, armou militarmente o bando do ex-guerrilheiro stalinista, Laurence Kabila, com o objetivo de derrubar a ditadura assassina de Mobutu, antigo e fiel aliado do imperialismo. Kabila é, agora, o novo “capataz” das transnacionais imperialistas, que saqueiam o Congo, roubando-lhe todos os seus recursos minerais e matando de fome sua população.
O Partido dos Trabalhadores, pode ser considerado a versão autóctone da Terceira Via, ou seja, das organizações reformistas que se transformaram em apêndices diretos do imperialismo, passando a representar os interesses sociais da burguesia nacional “desenvolvimentista”. Desconhecer esta dinâmica política, que marcou a fogo toda a evolução do PT, reduzindo-a simplesmente à tese de que, desde sua origem, o PT já “encarnava” a contra-revolução, é de um mecanismo primário e não corresponde, nem à realidade, nem à própria política levada a frente por Causa Operária naquele momento. Hoje, para “polemizar” sobre um suposto “lulismo arrependido” da LBI, o Sr. Pimenta reincorpora a versão lambertista do final dos anos 70 sobre o PT, falsificando além das posições políticas da LBI, a própria história de Causa Operária. Segundo Lambert, o PT teria sido criado a partir de uma manobra política da própria ditadura militar, operada pelo “mago” da “abertura lenta, segura e gradual”, o General Golbery do Couto e Silva. O Sr. Pimenta requentou esta versão em 96 para atacar “os impostores, apologistas da frente popular, de Lula e do PT”. Leiamos com atenção o chilique lambertista, retardatário historicamente, do guia genial de Causa Operária: “É violentar totalmente a verdade dizer que o PT foi um baluarte da luta contra a ditadura, uma vez que ele nem mesmo foi um partido que defendia claramente as mais elementares reivindicações da democracia… A burocracia sindical, da qual partiu o primeiro chamado à construção do PT, o fez como uma proposta dirigida ao conjunto da burocracia sindical vinculada diretamente ao regime militar…” (“Um grupo de impostores políticos”, pág. 32, CO). Somos forçados, mais uma vez, a desmoralizar os verdadeiros impostores de CO pegos de “calça curta”. Em sua fábula armada contra a LBI, a Causa Operária de “ontem” é que vai desmentir a própria ficção veiculada pela Causa Operária de “hoje”: “A estagnação da direita e a crise do PMDB constituem um progresso político, pois só reforçou o PT: o único partido que aparece comprometido com as reivindicações econômicas e democráticas dos explorados… Desta forma, levantando um programa democrático conseqüente, o PT abre caminho para uma intervenção revolucionária das massas na situação da crise política.” (Jornal Causa Operária, Especial: eleições de 1985). É inacreditável que o mesmo PT, pintado pelo Sr. Pimenta, em 96, como um “sustentáculo da ditadura militar”, apareça nas páginas do Jornal Causa Operária, em 85, como um partido “comprometido com as reivindicações econômicas e democráticas dos explorados”, além de abrir “caminho para uma intervenção revolucionária das massas”! Vale ressaltar que quando Causa Operária embelezava o PT com estas idiotices, estávamos, não em plena ditadura militar (quando o PT estava, sem sombra de dúvida, bem mais à esquerda), mas já no regime da Nova República, e logo após as eleições municipais de 1985, onde o PT lançou Suplicy à Prefeitura de São Paulo, com o seguinte bordão: “experimente Suplicy”, exatamente no momento do início de seu curso de adaptação à debutante “democracia burguesa”, onde abandonou nacionalmente seu eixo político de “trabalhador vota em trabalhador”, trocando-o por “experimente o PT”.
Em 94, Causa Operária desconsidera completamente as mudanças da conjuntura política e do próprio PT e mecanicamente repete seu voto, desta vez, de uma forma muito mais acrítica do que em 89, na candidatura presidencial de Lula. A posição dos ex-militantes de Causa Operária, que vieram a formar a LBI, foi diametralmente oposta: “Uma posição justa começa por descolar as ilusões do movimento operário com o PT, já profundamente abaladas pelo estreitamento dos vínculos políticos deste partido com a burguesia nacional e o capital financeiro internacional. A política que melhor potencia esta tarefa nas eleições gerais é uma ampla campanha junto aos trabalhadores do campo e da cidade e à juventude pelo voto nulo e pela construção de um verdadeiro partido operário, o partido revolucionário” (documento: “Pelo rompimento com a candidatura Lula”, agosto/94). Para atacar as posições da LBI, e justificar sua capitulação ao PT, Causa Operária vai tomar emprestado do stalinismo (nestas eleições, o Partidão apoiou Lula) sua surrada lógica política de “unir toda esquerda” para não fortalecer o candidato da “direita”. Surpreendentemente, CO escreveu o seguinte: “Chamar o voto nulo em uma eleição disputada entre Lula e Fernando Henrique Cardoso dificilmente poderá ser considerado como um ‘ataque pelos flancos’. Para os operários que apoiam Lula, o voto nulo parecerá um ataque frontal contra Lula, e pior ainda, uma defesa de Fernando Henrique Cardoso” (“Um grupo de impostores políticos”, p.50, CO). Para CO, denunciar a frente popular em 94, convocando o movimento operário a votar nulo pela construção de um verdadeiro partido operário, seria “uma defesa de Fernando Henrique Cardoso”. Que belo aprendiz stalinista da frente popular se converteu Causa Operária pelas mãos do Sr. Pimenta. Quem sabe, a política do voto nulo em 78, denunciando o caráter burguês do então oposicionista MDB, seria entendido como a “defesa da Arena e do General Figueiredo”, que não por coincidência era exatamente o mesmo “argumento” utilizado pelo stalinismo para atacar os que, naquelas eleições de 78, defenderam corretamente a construção de um partido operário e o voto nulo.
Para Causa Operária, a única razão necessária que a conduz a apoiar sistematicamente a frente popular encabeçada por Lula, é que este “agrupa as amplas massas em torno de sua candidatura”. O “erro capital” desta “tese”, que a “amarra” permanentemente ao apoio à frente popular, é desconsiderar um outro elemento fundamental para que os marxistas revolucionários possam apoiar criticamente, ou não, uma candidatura envolta em uma frente popular, qual seja o da referência política reacionária ou progressiva que esta candidatura possa expressar, ainda que deformadamente. Lenin, quando escreveu “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, polemizou com os ultra-esquerdistas que se recusavam tanto a participar das eleições para o parlamento britânico, como prestar apoio crítico ao Partido Trabalhista (Labour Party). Lenin afirmava, no começo do século, que o Partido Trabalhista já tendia a ser a representação política do imperialismo britânico, então hegemônico em nível mundial, mas que a classe operária o identificava como partido de classe, e a referência que este difundia entre as massas era a expressão deformada desta identificação política, ou seja, o Labour Party, para conquistar a confiança e seu apoio eleitoral dos operários, era obrigado a apresentar-se como um partido da classe operária. Nesse sentido, era uma obrigação dos revolucionários acompanhar criticamente a experiência política das massas, em seu apoio eleitoral ao Labour Party, com absoluta independência do programa reformista burguês do trabalhismo, conclamando a vanguarda do proletariado a construir seu próprio partido comunista. Esta foi uma política inteiramente acertada, defendida por Lenin, que mesmo não omitindo o caráter embrionariamente pró-imperialista do Labour Party, não considerou exclusivamente o seu peso político entre as massas, mas fundamentalmente a referência política que este era obrigado a veicular entre o proletariado, uma limitada referência de classe, que permitia aos comunistas daquela época explorar as contradições entre o programa burguês do Labour Party e sua referência classista junto às massas, no sentido de ajudar a classe operária a romper politicamente com as suas ilusões no trabalhismo, através de sua própria experiência e evolução política. Passado quase um século, Lenin, se estivesse vivo, com certeza não defenderia o voto crítico no Labour Party nas últimas eleições que levaram Tony Blair, do mesmo Labour Party, à chefia do governo britânico, não porque a classe operária e seus sindicatos tivessem deixado de agrupar-se massivamente em torno do velho trabalhismo, mas fundamentalmente pela referência política agora difundida pela nova liderança do Labour Party. Blair lançou sua candidatura, defendendo a quebra de conquistas históricas do proletariado, prometendo dar continuidade ao neoliberalismo de Margaret Tatcher, com mais privatizações e redução dos postos de trabalho, tudo isto, é claro, com uma fachada social-democrata, denominada de “Terceira Via”. Seria criminoso repetir hoje a política defendida por Lenin de apoio crítico às listas do Labour Party, simplesmente se baseando no fato da classe operária e sua vanguarda política continuar organizada sob suas fileiras e dedicando-lhe seu voto.
O apoio eleitoral a Blair, ao contrário de reforçar a confiança da classe operária em suas próprias forças, só embotaria ainda mais sua consciência de classe, além de cumprir o papel de absoluto freio às suas lutas e mobilizações contra o “ajuste” neoliberal.
Muitas organizações revisionistas do trotskismo na Inglaterra (Workers Power, The Militant, WIL, WRP etc.) seguem, como Causa Operária no Brasil, amarradas ao voto sistemático na frente popular encabeçada pelo Labour Party. Há quase 50 anos repetem mecanicamente o apoio eleitoral ao trabalhismo (“Vote Labour!”, inclusive nas últimas eleições gerais que deram a vitória a Blair), sob o argumento deste arrastar as organizações do proletariado sob o seu comando. Ignoram completamente o caráter político integralmente reacionário da atual “Terceira Via”, e que o voto no trabalhismo não representa nem mais remotamente possível, qualquer avanço no processo de tomada de consciência de classe do proletariado britânico. Estes revisionistas “desconhecem” inclusive a mudança qualitativa ocorrida no corte de classe da social-democracia européia, que não pode ser mais caracterizada como uma organização operária-burguesa, assim como Trotsky a definiu nos anos 30, mas sim como uma organização burguesa imperialista, dirigente dos principais países imperialistas da Europa (Inglaterra, Alemanha, França e Itália).
Trotsky, em meados de 30, orientou a que o pequeno grupo francês, o POI que simpatizava com suas posições, integrasse as listas eleitorais da frente popular, pela via do entrismo no Partido Socialista. Buscava, desta forma, intervir no processo concreto de organização do proletariado francês, profundamente embriagado pelas ilusões na social-democracia, no sentido de deslocar os setores mais à esquerda e combativos da vanguarda (organizada no interior do PS) para posições genuinamente revolucionárias. O velho bolchevique baseava-se na evidência de que a frente popular, encabeçada pelo “radical” Leon Blum, era a expressão de um processo de profunda instabilidade do regime capitalista, que diante da crise revolucionária teve que recorrer a um governo de colaboração de classes (frente popular) para estancar a profunda crise política e social. O voto aos “socialistas” dado pelos partidários de Trotsky na França, não tinha por objetivo encobrir o conteúdo contra-revolucionário da frente popular, mas ao contrário, explorar suas contradições, baseando-se nas próprias tendências do proletariado francês à sua independência de classe, torpemente desviadas pela demagogia “operária” da social-democracia. O ponto de apoio para justificar o voto no PS era exatamente a referência política progressiva (afirmava-se a representação da classe operária) que este era forçado, pela pressão das massas, a veicular em sua campanha eleitoral. Radicalmente oposta é a referência política levada a cabo pelo PS francês, atualmente na França. As campanhas eleitorais de Miterrand, e agora Lionel Jospin, são identificadas pela gestão estatal patronal e pró-imperialista do PS (apoio de Miterrand à guerra contra o Iraque). Os socialistas, quase sempre acompanhados de seus fiéis aliados do PCF, marcam bem sua referência política como o melhor partido para gerir os negócios dos capitalistas, não mais apresentando-se como um partido “dos operários”, apesar de continuarem recebendo o massivo apoio da classe operária e seus sindicatos. Farsantes do trotskismo francês, como os lambertistas, por exemplo, utilizaram oportunisticamente a política defendida por Trotsky nos anos 30, para justificar seu apoio político e eleitoral aos 12 anos de governo Miterrand. Seria um absurdo completo transpor mecanicamente a afirmação de Trotsky sobre o caráter da frente popular de Blum (França) e Cabalero (Espanha) como um “último recurso” da burguesia, para os governos frente-populistas de Miterrand, Blair, Schöroeder, D’Alema etc. — que na verdade são os “primeiros” e “melhores” recursos da burguesia e do imperialismo para gerência dos Estados imperialistas.
Causa Operária, no Brasil, envereda pelos mesmos caminhos dos revisionistas europeus, atrelando-se permanentemente à candidatura Lula, pelo fato deste “agrupar a classe operária”, independente de que referência política representa para o processo de consciência e luta do proletariado brasileiro. Quando nós, da LBI, apontamos as profundas contradições políticas que cercavam a frente popular em 89, e a referência classista que Lula era obrigado a difundir, mesmo que deformadamente, pela pressão das massas em uma conjuntura de profunda instabilidade do regime da Nova República, fomos acusados de “apologistas de Lula”. Quando em 94, Lula deixa de apresentar-se como “candidato dos trabalhadores” — e isto não representa apenas a troca de um slogan político eleitoral por outro qualquer — para assumir diretamente o discurso da burguesia nacional e do capital financeiro internacional, desmobilizando completamente as mobilizações e greves da classe operária para desenvolver sua campanha totalmente “a frio”, em uma situação de aparente estabilidade política do regime democratizante, defendemos: “O voto nulo e a construção de um Partido Operário Revolucionário”. Causa Operária, então, nos acusa de “lulistas arrependidos” para, descaradamente, continuar apoiando Lula “sem nenhum arrependimento” até hoje!
Para o Sr. Pimenta, em 89, era uma enorme “capitulação da LBI” caracterizar a referência progressiva do PT, que diante da ausência de um Partido Revolucionário com influência de massas, canalizava de maneira torpe as tendências à independência de classe do proletariado, mas o mesmo Sr. Pimenta não “achava” nenhuma capitulação quando CO, em 94, defendia: “reivindicar de Lula uma atuação independente da burguesia nas eleições!” (“Um grupo de impostores políticos”, p.50, CO). Reivindicar de Lula uma “atuação independente da burguesia”, justamente no momento em que o PT está atolado até o pescoço em suas relações com a burguesia (apoiou e participou do governo de Itamar Franco, esteve em Washington reunido com banqueiros, governava prefeituras reprimindo trabalhadores etc.), parece uma piada de mal gosto. Concluímos então, segundo CO, que direcionar politicamente as expectativas das massas com o PT para um terreno de independência de classe em 89 era uma “capitulação ao lulismo”, mas exigir em 94 e 98 do mesmo Lula, agora totalmente despojado de sua referência de classe (o PT, apesar de conservar o nome, afirma ser um partido de toda a sociedade e da cidadania), uma atuação independente da burguesia, vale dizer, neste caso, revolucionária, não significaria nenhuma ilusão em Lula e no PT. Sinceramente, não poderemos devolver o insulto que Causa Operária nos brindou, de “lulistas arrependidos”, seria uma profunda injustiça política. Causa Operária nunca se arrependeu de seu profundo lulismo ao longo de sua atrapalhada história. É assim, por exemplo, que jamais fez autocrítica pública por ter defendido a aplicação do “centralismo democrático” nas instâncias do PT.
Causa Operária segue “ad infinitum” (imitando nosso “latinólogo” Sr. Pimenta), condenada por sua própria política reformista, a votar em Lula, toda vez que este se apresentar em uma eleição presidencial, pelo menos enquanto contar com o apoio de setores expressivos da classe operária. Como parece que Lula “é o eterno” candidato do PT, isto nos faz lembrar a lenda de Sísifo da mitologia grega, que foi condenado pelos deuses do Olimpo a carregar uma enorme pedra até o alto de um morro, mas quando se encontrava em seu topo, a pedra, impulsionada por uma força misteriosa, rolava encosta abaixo, obrigando Sísifo a repetir eternamente a sua tarefa, uma verdadeira maldição. A diferença entre Sísifo e Causa Operária reside em que esta última repete mecanicamente sua tarefa (votar em Lula) não por uma imposição divina, mas pelo seu próprio programa frente-populista, uma variante revisionista de um verdadeiro programa revolucionário (Programa de Transição). No momento em que deixar de votar em Lula em alguma eleição, recairá sobre sua face a própria carapuça, atirada ao seu oponente político, ou seja, “lulistas arrependidos”. Desta forma, como não deram nenhum sinal de arrependimento, vide suas posições na última eleição presidencial, seguem sendo lulistas convictos, e assim como seu mestre, ardorosos defensores da contra-revolução social que destruiu os Estados operários burocratizados e as conquistas históricas da classe operária soviética.
LBI: UMA BREVE, MAS VITORIOSA EXISTÊNCIA POLÍTICA ENQUANTO ORGANIZAÇÃO REVOLUCIONÁRIA
Completados cinco anos de nosso surgimento enquanto organização revolucionária, podemos, e temos plena autoridade política para isso, afirmar que nossos acertos políticos, e inclusive os erros, estão no marco da adoção de um genuíno programa trotskista. Foi este programa revolucionário que nos guiou ao combate frontal à frente popular que, no Brasil, mais do que uma mera tática eleitoral utilizada por organizações sociais-democratas e stalinistas, é uma verdadeira direção política que influencia o cotidiano do movimento operário, controlando a maioria esmagadora dos sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais, além das entidades estudantis, compartindo com os partidos tradicionais da burguesia, o controle de “fatias” consideráveis do Estado capitalista (parlamento, prefeituras, governos estaduais etc.). Uma pequena organização revolucionária, nascendo sob a égide da frente popular sobre o movimento operário, tem todas as “chances” de sucumbir politicamente às pressões da política centrista e reformista, como fizeram quase a totalidade dos agrupamentos que se reclamam do trotskismo no Brasil. Mas este não foi o caso da LBI, que continua avançando lenta e molecularmente na sua titânica tarefa de construir uma verdadeira direção revolucionária para o proletariado brasileiro, além de estabelecer um vigoroso combate teórico, político e programático pela reconstrução da IV Internacional.
Podemos afirmar que a construção da LBI acontece na etapa histórica mais adversa, do ponto de vista da luta de classes dos últimos 25 anos, tanto no terreno nacional como internacional. Não vivenciamos, como a grande maioria da esquerda reformista que aí está, momentos chaves da luta de classes que permitissem alavancar nosso desenvolvimento orgânico. Por nossa curta existência política, não participamos, por exemplo: da retomada das mobilizações estudantis contra a ditadura militar em 77; do ascenso do movimento operário no ABC de 78 a 80; da fundação da CUT em 83; da campanha pelas Diretas em 84; do agitado período político que permeou toda a chamada “Nova República” (85 a 89); da campanha presidencial multitudinária de 89; do movimento Fora Collor em 92 etc.. Esta lista poderia estender-se muito mais, mas é o suficiente para dimensionar as situações mais decisivas da conjuntura nacional dos últimos 25 anos e as imensas oportunidades políticas abertas para a construção de um partido revolucionário. Ao invés disto, aparecemos no cenário político em junho de 1995, em meio à derrota da histórica greve dos petroleiros, que deu início ao um profundo refluxo do movimento operário brasileiro, só quebrado exatamente cinco anos depois, com as greves nacionais dos professores e funcionalismo público. Foi um período marcado pelo sucateamento da indústria nacional, elevação brutal dos níveis de desemprego, quebra da estabilidade para os servidores públicos, e o que é mais importante, pela absoluta adaptação das direções políticas do movimento operário ao “Plano Real” e seu executor: o governo Fernando Henrique Cardoso, office-boy do imperialismo.
No terreno internacional, a LBI nasce no período marcado sob o signo da derrubada do Muro de Berlim e da destruição contra-revolucionária da antiga pátria de Lenin e Trotsky, a URSS. Estes fatos tiveram um impacto decisivo no processo de recuo ideológico da vanguarda de esquerda e do conjunto das organizações que se reivindicavam marxistas. Lenin, símbolo emblemático da Revolução de Outubro, passou de “herói” a “bandido” no conceito de uma ampla gama de antigos “revolucionários”. O centralismo democrático e a estrutura hierarquizada de partido foram categoricamente condenados como o pior tipo de autoritarismo já visto pela humanidade, igualando-os ao nazismo e stalinismo. A luta pela revolução socialista como meio de conquista do poder político pela classe operária, foi sumariamente “substituída” pela participação “popular” nas instâncias do próprio Estado burguês. O profundo retrocesso ideológico, político e cultural (nossa MPB “submergiu” aos dejetos da chamada “cultura de massa”), que marca nossa etapa histórica, sem dúvida alguma influenciou toda uma geração de lutadores que, apesar de sua imensa combatividade, se encontram em um patamar político e programático bem inferior às gerações políticas surgidas nos anos 60, 70 e 80.
Quando elencamos aspectos puramente ideológicos, para balizar nossa caracterização da atual etapa mundial, não estamos procurando apagar do cenário internacional, importantes lutas ocorridas neste período, como a greve geral francesa deflagrada em novembro de 95, ou mesmo a “erupção de massas” que percorre toda a América Latina nos dias de hoje. O modo de produção capitalista não estancou sua crise estrutural de superprodução e parasitismo financeiro, com a ofensiva ideológica, militar, política e econômica desencadeada contra os povos a partir queda do Muro de Berlim. Esta ofensiva tem por objetivo dar uma sobrevida à crise do imperialismo, através da recolonização dos países atrasados e dos antigos Estados operários. O que caracterizamos é que, apesar da imensa radicalização das lutas em todo o planeta, estas têm sido desviadas por direções burguesas e contidas no marco do próprio regime capitalista, em sua versão “democrática”. O exemplo da greve geral francesa de 95 é espetacular para comprovar o que afirmamos; comparada à greve geral de maio de 68, foi muito mais ampla e prolongada, mas bem aquém do nível ideológico e político que permeou o “Maio de 68”. As mobilizações que derrubaram a ditadura de Suharto na Indonésia, também demonstram o imenso fosso entre a radicalidade da luta de massas e sua “finalização” democrática-burguesa.
Mas é justamente no campo da concepção leninista de partido, que reside a maior vitória política da LBI no curto período de sua existência. Resistir às poderosas forças centrífugas da atual etapa mundial, assim como sobreviver íntegro, do ponto de vista revolucionário, às enormes pressões da frente popular, encabeçada pelo PT, em um país onde todo o movimento político de esquerda é dominado pela estratégia de colaboração de classes, exige a construção de uma genuína organização leninista, forjando quadros comunistas em seu interior, como condição sine qua non para continuar a defesa viva da revolução proletária como única via de chegada ao socialismo.
Outras vertentes pseudo-trotskistas, que se dizem formalmente independentes da frente popular, fracassaram em constituir-se como reais alternativas políticas aos revisionistas caudatários oficiais da frente popular (PSTU, OT, PCO, DS etc.), exatamente porque divergem e rejeitam, na prática, a concepção leninista de partido. Este é o caso da seita TPOR, filial do lorismo no Brasil, um agrupamento de pequeno-burgueses diletantes e amadores, sem nenhuma perspectiva de estabelecer um combate frontal ao PT e seus aliados de “esquerda” (PSTU, PCO), em virtude de sua concepção antimarxista (democrática) da construção de um partido revolucionário. Encontraram na defesa estratégica da proporcionalidade como método para compor as direções das entidades de massas (sindicatos, DCE’s, CA’s etc.), uma entrada pela porta dos fundos na frente popular. A TPOR é bem aceita na “família” da contra-revolução por sua inofensividade e impotência política, estabelecendo uma convivência harmônica e pacífica no bojo de direções sindicais hegemonizadas por toda sorte de reformistas integrantes da “frondosa árvore” da frente popular brasileira.
A construção de uma organização política de combate, e não um grupo de charlatães acadêmicos, já faz parte da breve, mas rica história da LBI. Debutamos denunciando a traição da CUT à greve dos petroleiros e a bárbara chacina dos trabalhadores sem-terra (agosto de 95) pelo governo do estado de Rondônia, dirigido pelo PMDB em unidade com o PT, que ocupava inclusive a Secretaria da Agricultura no momento do assassinato covarde dos sem-terra. Nesta ocasião, fomos a única corrente a denunciar vigorosamente a participação direta do PT nesta chacina, enquanto a totalidade, repetimos, a totalidade da esquerda silenciava sobre a responsabilidade do PT, da CUT e da direção do MST neste trágico episódio. Seguimos neste mesmo rumo político até hoje e, por isso, recebemos o ódio, merecido, de todo o arco que compõe a frente popular, desde a sua “pata” mais à esquerda (PCO, PSTU), passando pelos intestinos do PT (OT, FS, DS etc.) até a sua reacionária extremidade de direita (Articulação, PSB, PCdoB, PDT).
A existência da “pequena” LBI, intervindo “agressivamente” contra a política de colaboração de classes que infesta o movimento operário nacional, utilizando sempre o método da polêmica dura, porém honesta, contra os fariseus do marxismo, representa o fio de continuidade do trotskismo em nosso país. Sem ter receio de resvalar em nenhum delírio ufanista ou autoproclamatório, nossa afirmação é bem consciente do papel que joga a LBI para o desenvolvimento da luta por construir um autêntico partido revolucionário no Brasil. A LBI não é produto político de um fortuito raio caído em pleno céu azul do movimento operário, representamos a continuidade dos aspectos mais principistas das organizações que no passado defenderam conseqüentemente, com gradações diferenciadas, o Programa de Transição, em sua integralidade revolucionária. Somos a estensão programática da LCI, fundada por Mário Pedrosa na década de 30, do PSR dirigido por Sacheta e Florestan Fernandes nos anos 40, da ex-OSI em seu combate por um Partido Operário em 78, da antiga CS em sua correta denúncia do caráter contra-revolucionário da burocracia lulista no início dos anos 80, da extinta OQI, quando combateu os desvios oportunistas e tradeunionistas das correntes revisionistas do trotskismo em meados dos anos 80. No campo internacional, reivindicamos a herança do Comitê Internacional (CI) em sua batalha contra o revisionismo pablista nos anos 50; reconhecemos a importância da luta política travada pela Revolutionary Tendence (TR) no interior do SWP norte-americano, contra o seu curso de adaptação ao castrismo no início da década de 70; por fim, defendemos as resoluções iniciais da Corrente Bolchevique pela Quarta Internacional (CBQI), formada conjuntamente pela LBI e o PBCI argentino em meados dos anos 90. Todas estas organizações e tendências internacionais, ao longo da história, tiveram em comum o fato de terem abandonado, formalmente ou não, a tarefa da construção de um Partido Revolucionário e a defesa do Programa de Transição.
Cabe à LBI, apesar de sua “insignificância organizativa” lançar-se decididamente à realização da tarefa que se dispôs a cumprir em sua fundação, ou seja, continuar a firme defesa do legado teórico de Marx, Lenin e Trotsky na prática política da luta de classes, dando continuidade ao elo histórico de nossos precursores revolucionários. Se a etapa histórica mundial e as especificidades da realidade nacional, é bem verdade, retardam nossa gigantesca tarefa, nos nutrimos do paciente, mas rigoroso método leninista de construção partidária, procurando evitar atalhos oportunistas e “sindicalistas” para “chegar” às massas, assim como negando os desvios ultra-sectários e formalistas, que nos afastam do movimento operário e da disputa por sua direção política. Resistir às gigantescas forças centrífugas dos aparelhos contra-revolucionários que operam em favor da destruição de uma organização revolucionária é o nosso atual desafio histórico.
O MÉTODO QUE OFERECEMOS AOS NOSSOS LEITORES E SIMPATIZANTES
Não buscamos, pela via desta resenha, oferecer aos nossos leitores e simpatizantes uma enfadonha narrativa da luta intestina que culminou na nossa ruptura com Causa Operária. As versões dadas sobre uma ruptura política são sempre muito subjetivas e, quase sempre, pecam pela absoluta parcialidade, o que é perfeitamente justo. Por isso, como somos marxistas e acreditamos que exista uma verdade “objetiva” sobre os fatos da luta de classes (rupturas e fusões políticas se enquadram nesta categoria), nada melhor que aferir esta “verdade” sobre a cisão da LBI nas lições políticas e programáticas abstraídas dos próprios fatos marcantes da luta de classes. Nas próximas páginas, os leitores encontrarão nossas principais diferenças com Causa Operária e sua matriz ideológica, o Partido Obrero, pontuadas no curso da luta de classes destes últimos cinco anos. Para nós, da LBI, este é o melhor método para clarificar diferenças e práticas políticas opostas, ao invés das “nebulosas” versões montadas por Causa Operária com o objetivo de falsificar e caluniar nossas posições políticas.
Os editores
Comitê Central da LBI
Junho de 2000.